12° Congresso Brasileiro de Mastozoologia

Simposios


 

Resumo: Os pequenos mamíferos (roedores e marsupiais) compõe um elemento chave dos ecossistemas. Esses animais exercem funções ecológicas extremamente relevantes, contribuindo para a dispersão de sementes e manutenção da diversidade de áreas tropicais. Além disso, são componentes chave das teias tróficas; podem prestar serviços ecossistêmicos altamente relevantes e possuem potencial para utilização como indicadores de qualidade ambiental dos sistemas naturais. Um dos sistemas em que os pequenos mamíferos são altamente abundantes e diversos é o Cerrado. Nesta savana neotropical, que cobre cerca de 2 milhões de Km2, ocorrem pelo menos 120 espécies de pequenos mamíferos. Esses animais estão associados a todas as fitofisionomias associadas ao Cerrado, desde áreas campestres até formações florestais. Além de sua relevância ecológica intrínseca, o conhecimento científico sobre os pequenos mamíferos do Cerrado se torna ainda mais necessário devido ao atual cenário de devastação deste bioma, que já perdeu 48% da sua cobertura vegetal nativa e 20% permanece intacta. As principais ameaças à biodiversidade do Cerrado são a degradação do solo e dos ecossistemas, invasões biológicas e ocorrência de queimadas descontroladas. No presente simpósio, serão apresentados estudos recentes referentes a diversos aspectos relacionados à ecologia de pequenos mamíferos de Cerrado. Esses estudos incluem tanto aspectos mais teóricos, relacionados a possíveis explicações evolutivas para os padrões de coloração da pelagem destes animais e diversidade associada a distintas ecorregiões; quanto também aspectos mais aplicados, relacionados às respostas das comunidades à fragmentação, serviços sistêmicos fornecidos por este grupo e efeito da severidade e da supressão do fogo sobre esses animais.
 

"Perdedores e vencedores após um grande incêndio florestal: a severidade do fogo afeta funcional e taxonomicamente as comunidades de pequenos mamíferos e o papel destes como dispersores em florestas de galeria no Cerrado"
Palestrante e coordenador: Emerson M. Vieira (UnB)
Resumo: O fogo é um distúrbio que pode alterar drasticamente não só a abundância e composição das comunidades de pequenos mamíferos como também o papel destes em processos ecológicos altamente relevantes, como a dispersão de sementes. Esses efeitos do fogo, no entanto, podem variar em função de variações na frequência e na severidade dos incêndios. Além disso, as respostas das comunidades podem ocorrer tanto taxonômica quanto funcionalmente. Neste estudo, investigamos o efeito da severidade do fogo sobre pequenos mamíferos não voadores de florestas de galeria no Cerrado, 3 anos após um grande incêndio. Avaliamos respostas relacionadas à diversidade do grupo (tanto taxonômica quanto funcional) como também no seu papel potencial como dispersores de sementes. Detectamos que a severidade do fogo afetou positivamente a diversidade taxonômica e a dispersão funcional de pequenos mamíferos. No entanto, este efeito ocorreu às custas de forte redução nas espécies estritamente dependentes de florestas em matas severamente queimadas. Um aumento na severidade do fogo afetou a composição de espécies de sementes potencialmente dispersas, alterou o papel relativo das espécies de pequenos mamíferos como dispersoras de sementes e diminuiu a riqueza de sementes viáveis encontradas nas fezes. Concluímos que os incêndios florestais de alta severidade afetam as comunidades de pequenos mamíferos e processos ecológicos altamente relevantes, reduzindo a dispersão de sementes por animais. Estes efeitos alteram a composição da fauna e podem impactar a dinâmica de recrutamento de espécies vegetais e, consequentemente, a recuperação da vegetação e a composição da comunidade vegetal nas áreas severamente afetadas pelo fogo.

“Determinantes da Diversidade de pequenos mamíferos no Cerrado e implicações para Conservação ”
Palestrante: Ana Paula Carmignotto (UFSCAR)
Resumo: O Cerrado é caracterizado por um mosaico de hábitats representado por formações campestres, savânicas e florestais. A riqueza de pequenos mamíferos está intrinsecamente relacionada a esta diversidade fitofisionômica, dado que apresentam alta seletividade de hábitats, resultando na elevada diversidade local. O bioma também abrange planícies, depressões, Chapadas, Serras, além das terras altas do Planalto Central, sendo o relevo um dos determinantes da diversidade regional, promovendo endemismos. Grandes bacias hidrográficas cortam o Cerrado, e os rios também representam importantes barreiras geográficas, auxiliando na compreensão da elevada diversidade regional do bioma. Somando-se a isso há diferenças climáticas ao longo do Cerrado, com porções apresentando elevado deficit hídrico na seca, e, consequentemente, uma sazonalidade bem marcada, enquanto outras apresentam menor sazonalidade e elevada pluviosidade anual, influenciando o mosaico de hábitats nestas regiões. Estes fatores em conjunto revelam uma elevada riqueza atualmente presente no Cerrado, incluindo espécies recém-descritas. O esforço padronizado nos diferentes hábitats e porções do Cerrado têm revelado riqueza similar entre as formações campestres, savânicas e florestais, e ao longo do bioma. Entretanto, a composição de espécies difere entre hábitats e localidades. Analisamos dados dos mamíferos endêmicos do Cerrado em conjunto com outros grupos de vertebrados, sendo reconhecidas 29 regiões (elementos bióticos) ao longo do bioma, evidenciando a complexa história evolutiva do Cerrado. Quanto à conservação, a porção norte do bioma ainda abrange áreas extensas preservadas, entretanto, na porção sul, é necessário abranger vários pequenos fragmentos, atualmente imersos em uma matriz pouco permeável, para que a maior parte da diversidade seja preservada.

"Controle biológico provido pelos pequenos mamíferos em paisagens agrícolas no Cerrado "
Palestrante: André Faria Mendonça (UnB)
Resumo: O Cerrado além de ser o segundo maior bima brasileiro, também, é a savana tropical mais diversa e mais ameaçada devido à expansão das atividades agropecuárias. Atualmente mais de 40% do Cerrado são cobertas por atividades agropecuárias, sendo pastagens (23%) e plantações de soja (10%) as principais. Segundo o MapBiomas entre 1985 e 2021, a área de plantio de soja no Cerrado cresceu cerca 1.440% ocupando quase 20 milhões de hectares. Neste cenário de intensa conversão do Cerrado em paisagens agrícolas, é imprescindível que entendamos a composição e dinâmica da fauna nestas paisagens agrícolas. Além disso, qualquer estratégia de conservação do Cerrado, deve contemplar a conservação e manejo dos remanescentes de vegetação natural presentes nas propriedades rurais. Consequentemente temos que atuar na conscientização e, em um segundo momento, em parceria com os produtores rurais. Uma forma de criar essa conexão com os produtores consistem em demonstrar a importância dos remanescentes de Cerrado na redução dos custos da produção. Neste contexto, identificar, quantificar e valorar os serviços ecossistêmicos prestados pela pequenos mamíferos podem contribuir na criação dessa parceria. Dentre esses serviços, o controle biológico de pragas se destaca, pois, uma parte significativa do custo da produção agrícola é o controle destas com o intenso uso de agrotóxicos. Assim irei apresentar os resultados de pesquisas sobre identificação, quantificação e valoração do controle biológico da principal praga da soja, o percevejo marrom (Euschistus heros), pelos pequenos mamíferos em uma paisagem agrícola de produção de soja no Distrito Federal.

"Cerrado é fogo que arde para viver: como a supressão total do fogo pode afetar os pequenos mamíferos do Cerrado"
Palestrante: Luciana de Oliveira Furtado (ESALQ/USP)
Resumo: Ao contrário dos ecossistemas sensíveis ao fogo, as savanas coevoluiram com queimadas naturais, responsáveis pela manutenção das formações abertas habitadas por espécies adaptadas ao regime de fogo local. Como resultado de anos de supressão ativa do fogo, as áreas de Cerrado vem enfrentando as consequências do adensamento lenhoso, incluindo o risco de incêndios descontrolados e a perda de biodiversidade especialista de formações abertas. Alternativamente, o manejo do fogo se apresenta como uma estratégia de conservação na medida que mantém as fisionomias campestres e savânicas, promovendo a biodiversidade local. Apresento aqui resultados do impacto do adensamento lenhoso e do uso de fogo prescrito em uma comunidade de pequenos mamíferos na porção sul do Cerrado. A comunidade foi caracterizada quanto ao uso do habitat. A comunidade de pequenos mamíferos demonstrou uma clara estruturação quanto ao uso do habitat. Apesar de não influenciar a riqueza de espécies, o adensamento lenhoso vem alterando a abundância de pequenos mamíferos, favorecendo espécies associadas a ambientes florestais, enquanto afeta negativamente espécies relacionadas a fisionomias abertas. O fogo afetou a comunidade de maneira diferente nos dois experimentos realizados (temporal e espacial). No primeiro experimento, roedores especialistas de habitats abertos e vulneráveis ao adensamento lenhoso foram beneficiados pelo fogo, enquanto marsupiais foram negativamente afetados. Já no experimento espacial, não houve mudanças significativas nos parâmetros de diversidade. A manutenção de um mosaico de habitats queimados e não queimados pode ser essencial para garantir a conservação de espécies especialistas de habitats abertos em ambientes savânicos adensados.

"Adaptação, camuflagem e a variação da coloração da pelagem em pequenos mamíferos"
Palestrante: Nilton Cáceres (UFSM)
Resumo: Os pequenos mamíferos são o grupo de maior sucesso dentre os mamíferos, exibindo a maior diversidade de espécies do planeta. Dentre eles, destacam-se os marsupiais, roedores e lagomorfos. Exibem grande diversidade funcional, havendo espécies terrícolas, arborícolas, semiaquáticas e fossoriais. Porém, essa diversidade varia no espaço geográfico e ambiental. O ambiente e o clima são dois fatores importantes na diversificação dessas espécies. Por exemplo, ambientes quentes e úmidos comportam mais espécies, de acordo com o conhecido gradiente latitudinal. Assim, a Regra de Gloger vem a contribuir para o entendimento de como as espécies se adaptam no ambiente. Ela prediz que espécies endotérmicas com colorações mais escuras ocorrerão em ambientes quentes e chuvosos. Nosso laboratório tem feito pesquisas com a variação da pelagem de pequenos mamíferos, por meio de quantificação de cores claras e escuras na pelagem do dorso, a partir de fotos das espécies. O objetivo tem sido testar se a variação da coloração da pelagem nessas espécies é adaptativa, ou seja, se análises estatísticas (e.g. PGLS) encontram relações significativas entre cor da pelagem e variáveis climáticas (temperatura e precipitação). Temos verificado com sucesso que tanto marsupiais, roedores, quanto lagomorfos exibem colorações mais escuras da pelagem em regiões quentes e chuvosas. Normalmente a precipitação se sobressai à temperatura na explicação dessa variação da coloração. Locais mais chuvosos são mais sombreados. A camuflagem é a explicação mais plausível para nossos resultados.

"Composição e estrutura das comunidades de pequenos mamíferos em uma paisagem fragmentada no Brasil central"
Palestrante: Wellington Hannibal (UEG)
Resumo: A perda de habitat é uma das principais ameaças a biodiversidade. Neste contexto, a quantidade de vegetação nativa na paisagem, ou habitat amount tem sido invocada como um dos principais mecanismos que influenciam nos padrões de diversidade, em especial a riqueza de espécies. A estrutura da vegetação e a disponibilidade de recursos locais, ou seja, mecanismos em microescala também influenciam a composição, riqueza e diversidade de pequenos mamíferos, pois refletem a qualidade do habitat para este grupo. Aqui eu irei apresentar resultados de pesquisas sobre a ecologia de pequenos mamíferos em uma paisagem fragmentada de Cerrado no Brasil central. Encontramos que: 1) a composição da comunidade de pequenos mamíferos é estruturada por múltiplas escalas da paisagem, tais como: micro-habitat (troncos caídos, lianas e cobertura do dossel), escala de mancha (NDVI) e escala de paisagem (habitat amount). 2) há um gradiente na qualidade do habitat (expressado aqui pela estrutura da vegetação e disponibilidade de recursos alimentares) que influencia na composição funcional dos pequenos mamíferos. Habitats com alta complexidade tendem a abrigar comunidades com destaque para os atributos: especialista de habitat, que fazem mais uso do sub-bosque, e com dieta frugívora-predador de sementes. Vale ressaltar que os estudos conduzidos pelo nosso time, têm fornecido exemplares de pequenos mamíferos testemunhos da região para a Coleção de Mamíferos da Universidade Estadual de Goiás – CMUEG, sendo está a única coleção de mamíferos para o estado de Goiás, referenciada pelo Comitê de Coleções da Sociedade Brasileira de Mastozoologia.

 
Resumo: A Ecologia do Movimento é um campo do conhecimento que estuda as causas e consequências ecológicas da movimentação animal. Este campo vem crescendo rapidamente devido aos avanços tecnológicos de biotelemetria acompanhados de desenvolvimentos numéricos e computacionais robustos, que permitem o processamento e interpretação biológica das informações coletadas. Para além do desenvolvimento conceitual e teórico desse campo, reconhece-se atualmente que a movimentação animal é uma ponte processual importante que liga diversos aspectos e padrões ecológicos que podem possuir aplicabilidade em conservação. Portanto, neste simpósio, pretendemos explorar e exemplificar uma gama de possibilidades do uso da investigação do movimento dos animais para clarificar desafios de coexistência entre a biodiversidade, os humanos e as suas atividades. Visamos então navegar em como o conhecimento da movimentação animal desvenda soluções de manejo de pastagens em ambientes naturalmente abertos, manejo de matrizes em áreas florestadas, ajuda a entender o papel da composição da paisagem na termorregulação de diversas espécies de mamíferos enfrentando os impactos das mudanças climáticas, pode orientar a vigilância epidemiológica e de saúde animal e humana, bem como fornece informação para sustentar cadeias produtivas de turismo sustentável de observação de vida silvestre tanto no setor privado como no extrativista de base comunitária.
 

"Aplicabilidade da movimentação animal no entendimento da transmissão de patógenos de interesse de conservação e zoonótico"
Palestrante e Coordenador: Luiz Gustavo
Resumo: Nessa palestra será explorado como a movimentação animal refina nosso conhecimento de como ocorre o derramamento de patógenos entre hospedeiros mamíferos (spillover), destacando a importância ecológica do papel da movimentação de predadores de topo como freio na transmissão de patógenos entre espécies de mamíferos presa de importância de conservação, e para os humanos. Como estudo de caso serão utilizados projetos do palestrante que vem investigando (1) alces, veados e lobos dentro do ciclo do Verme Cerebral (Brainworm disease), veados dentro do ciclo da Doença Zumbi (Chronic wasting disease), e capivaras, carrapatos e humanos no ciclo da Febre maculosa.

"Aplicabilidade da movimentação animal no manejo de matrizes em áreas fragmentadas"
Palestrante: Jayme Augusto Prevedello
Resumo: Paisagens contemporâneas são formadas pela conversão de áreas de vegetação nativa em uma variedade de ambientes antrópicos. A manutenção de processos e serviços ecossistêmicos nestas paisagens depende principalmente da manutenção dos fluxos de organismos pela paisagem, ou seja, da sua permeabilidade ou resistência ao movimento animal. Vamos explorar como a composição da matriz e principalmente seus elementos - linhas de plantio, árvores isoladas, poças temporárias, cercas vivas - afetam a capacidade de cruzar a matriz de mamíferos de diferentes tamanhos corporais. Modelos Baseados em Indivíduos (IBMs), incorporando estes efeitos no movimento animal de mamíferos, serão usados para analisar como diferentes estratégias de manejo da matriz e seus elementos podem tornar paisagens mais amigáveis à biodiversidade.

"Aplicabilidade da movimentação animal no entendimento dos impactos negativos da sinergia entre mudanças climáticas e de uso do solo para a termorregulação"
Palestrante: Aline Giroux
Resumo: Com as mudanças climáticas, a manutenção da temperatura corpórea em valores ótimos para o desempenho das funções fisiológicas tem sido um dos principais desafios adaptativos para a vida selvagem. Aqui, abordaremos o uso de fragmentos florestais como abrigos térmicos por diversas espécies de mamíferos generalistas de habitat e vivendo em paisagens heterogêneas, mostrando como o desmatamento pode reduzir as oportunidades de termorregulação comportamental, e como a importância das florestas enquanto abrigo térmico varia entre as espécies.

"Aplicabilidade da movimentação animal no manejo de coexistência entre mamíferos especialistas de áreas abertas e a pecuária"
Palestrante: Caio Filipe da Motta Lima
Resumo: As pastagens para criação de gado compõem cerca de metade dos ecossistemas do mundo e estão em contínua expansão, o que torna urgente a formulação de um manejo de pastagens que una a pecuária à conservação dos animais silvestres. Vamos abordar nessa apresentação um exemplo de como a movimentação de uma espécie de canídeo especialista em áreas abertas podem auxiliar na proposição de um manejo de pastagem que favoreça tanto o produtor rural como o canídeo selvagem. Demonstraremos como alterações na estrutura vegetacional das gramíneas refletem tanto no comportamento da espécie quanto no desempenho econômico da produção de gado, e como isso agrega complexidade à formulação de um manejo integrativo que contemple a produção agropecuária e a conservação da biodiversidade.

"Aplicabilidade da movimentação animal na cadeia produtiva do turismo de observação de vida silvestre"
Palestrante: Abigail Martin
Resumo: Esta apresentação abordará a relação simbiótica entre as observações da onça pintada e a próspera cadeia turística em Porto Jofre, MT. As onças pintadas, como carismáticos predadores de topo, são atrações fundamentais para os entusiastas da vida selvagem. Compreender seus padrões de movimento e como a população responde ao aumento da frequência e intensidade dos incêndios florestais é essencial para o apelo sustentável do turismo de vida selvagem. Ao enfatizar a importância da preservação desses animais e seus habitats, podemos contribuir para a longevidade e o sucesso da indústria do turismo em Porto Jofre.

"Aplicabilidade do movimento animal no turismo e manejo de base comunitária"
Palestrante: Emiliano Ramalho
Resumo: Embora o turismo de observação de grandes animais como os predadores de topo esteja difundido ao redor do mundo, essa atividade é majoritariamente realizada em ambientes abertos e savânicos, onde a visualização é maximizada. O encontro desses animais em florestas tropicais é extremamente raro, impossibilitando uma cadeia produtiva perene que atraia visitantes. O monitoramento remoto desses animais além possibilitar a pesquisa científica, pode também facilitar o encontro e visualização desses animais durante atividades de turismo. Nessa palestra será demonstrado como o GPS-monitoramento de onças pintadas na amazônia ajuda a desvendar aspectos evolutivos arbóreos ainda não reconhecidos entre grandes felinos mundiais, mas também tem potencial de assegurar o turismo de observação de vida silvestre. Nesse caso especial, a economia gerada pelo turismo é organizada com objetivo de beneficiar a comunidade local, trazendo treinamento, empregos, e fonte de renda para populações tradicionais.

Resumo: A diversidade extraordinária de mamíferos neotropicais representa um espectro de "inúmeras formas de grande beleza". A chave para acessar e compreender esta diversidade reside nos fatores que influenciam a evolução morfológica, resultando na atual e passada disparidade de formas, um tema central na Biologia Evolutiva, abordado neste simpósio. Com ênfase na fauna sul-americana, mas percorrendo uma gama de táxons como Carnivora, Rodentia, Chiroptera e Marsupialia, as discussões compreenderão desde a relevância da coleta de dados - abrangendo descrições anatômicas detalhadas, dados de campo e de coleções - até os diversos tratamentos analíticos e substratos teóricos. As palestras buscarão examinar o estado da arte no estudo da evolução morfológica e morfologia funcional em diferentes táxons. Este simpósio propõe uma diversidade de abordagens, desde a análise de processos microevolutivos até a elucidação de padrões e processos macroevolutivos, proporcionando uma perspectiva abrangente sobre a função e evolução da forma. Os objetivos principais são compreender os mecanismos que influenciam a evolução morfológica em mamíferos e avaliar o progresso atual nos estudos de morfologia evolutiva em mamíferos neotropicais, com especial atenção a pequenos mamíferos. Esta conferência visa não apenas a sumarizar avanços recentes da pesquisa em evolução morfológica de mamíferos, mas também a apontar as direções futuras para pesquisadores interessados em investigar essa área no Brasil e na América do Sul.
 

"O estudo da adaptação através de diferentes complexos morfológicos: o caso dos roedores predadores"
Palestrante e coordenadora: Rafaela Missagia
Resumo: A diversidade ecomorfológica e altas taxas de diversificação dos roedores os tornam um grupo modelo para estudar padrões de convergência. Grande parte dos roedores são onívoros ou herbívoros, e seu crânio tem uma configuração que otimiza a eficiência mastigatória e permite a exploração de recursos variados. Entretanto, alguns roedores são especialistas no consumo de matéria animal (i.e. roedores predadores), apresentando adaptações morfológicas antagônicas às encontradas em espécies com outras dietas. O crânio, como estrutura fundamental, abriga componentes mastigatórios e sensoriais que desempenham papéis cruciais na interação das espécies com o ambiente, e a especialização para captura de presas impõe diferentes desafios em sua detecção, aquisição e ingestão. Nesta palestra, serão abordadas adaptações morfológicas e funcionais do crânio, músculos mastigatórios e endocrânio de roedores predadores neotropicais da tribo Akodontini. Será discutido como a integração de diferentes complexos morfológicos pode ajudar a compreender as diversas forças que moldam a morfologia craniana de roedores predadores: história evolutiva, função mastigatória e biologia sensorial; com impacto mais amplo em estudos macroevolutivos e morfofuncionais envolvendo especialização trófica em mamíferos.

"Evolução da alometria mandibular em carnívoros sul-americanos"
Palestrante: Jamile de Moura Bubadué
Resumo: A alometria morfológica descreve as relações escalares entre os componentes que constituem um organismo. Essas relações podem variar ou ser altamente conservadas entre as espécies. Em Carnivora, a alometria está intrinsecamente associada à preservação da integridade mecânica da mandíbula como parte de seu aparato alimentar. Durante esta exposição, a evolução e disparidade da mandíbula dos carnívoros sul-americanos será discutida, buscando entender as principais dis(similaridades) nas suas trajetórias alométricas em relação aos seus hábitos alimentares, e seu aspecto conservativo. Para tanto, um arcabouço teórico-metodológico será apresentado a fim de facilitar o estudo dessas relações morfofuncionais de forma comparativa. Uma vez que a magnitude da alometria varia entre as espécies, esta fala também abordará a contribuição do componente alométrico na disparidade intraespecífica. Finalmente, a alometria será discutida como um potencial caminho de menor resistência para a evolução no grupo, ao mesmo tempo que mantém a integridade funcional mandibular.

"Morfologia funcional de marsupiais Neotropicais"
Palestrante: Gabby Guilhon
Resumo: Nas últimas duas décadas, a evolução morfológica e funcional dos marsupiais vem sendo considerada restrita por conta do seu modo de reprodução rápido e subdesenvolvido, que impõe uma estrutura corporal com capacidade minimamente escaladora em todas as espécies ao nascer. No caso dos marsupiais Neotropicais, o maior exemplo disso é o gambá-comum, Didelphis, considerado generalista tanto em termos de preferência alimentar quanto em hábito locomotor. Além disso, ele é usado como padrão morfológico para todos os marsupiais americanos, que supostamente seguem o mesmo arquétipo funcional do gênero. No entanto, esta discussão é suportada particularmente em estudos ecológicos e osteológicos do crânio, caracterizados também pela restrição taxonômica. Ainda são raras as pesquisas concentradas nos componentes esqueléticos pós-cranianos e/ou miológicos, que podem fornecer evidências da especialização funcional do grupo. Dessa forma, esta palestra tem os objetivos de 1. apresentar o estado da arte da morfologia funcional de marsupiais Neotropicais; 2. expor evidências de especializações anatômicas no esqueleto e na musculatura pós-craniana do grupo, apesar das supostas limitações do desenvolvimento; 3. discutir as principais lacunas do conhecimento no grupo que desperte o interesse dos ouvintes para esta linha de pesquisa.

"Morfologia funcional e evolução em estudos de longa duração: conectando fenótipo, desempenho e adaptação"
Palestrante: Leandro R. Monteiro 
Resumo: Estudos de longa duração baseados em indivíduos são cruciais para a compreensão do efeito da variabilidade fenotípica e do desempenho funcional nas respostas evolutivas a flutuações ambientais. Nesta palestra, discutiremos resultados de um estudo que monitora uma população de morcegos-de-cauda-curta (Carollia perspicillata) há mais de 10 anos, possibilitando a avaliação das associações entre fenótipo e valor adaptativo (sobrevivência e reprodução), assim como a sua mediação pelo desempenho funcional. A morfologia alar de C. perspicillata varia dentro das populações ao longo de eixos principais associados com razão de aspecto (alongamento), carga alar (peso por área de asa), e cambagem (curvatura da superfície alar). Experimentos mostraram que fenótipos com diferenças máximas de desempenho podem ter gastos energéticos durante o voo representando até 30% do requerimento diário. A relevância evolutiva das modificações fenotípicas no desempenho funcional será discutida a partir da sua influência nas probabilidades de sobrevivência e reprodução, obtidos como parâmetros de modelos multi-estado de marcação e recaptura. O mapeamento entre as superfícies adaptativa e de desempenho funcional permite uma discussão do potencial de respostas evolutivas das populações frente a mudanças ambientais.

"Um bauplan generalista? Especializações morfológicas associados à locomoção em pequenos roedores Neotropicais"
Palestrante: William Corrêa Tavares 
Resumo: Roedores, notáveis por sua diversidade taxonômica e ecológica, são um dos grupos mais bem-sucedidos entre os mamíferos. Esse sucesso, especialmente em espécies de menor porte, é parcialmente atribuído a um plano corporal generalista, facilitando acesso a diversos recursos sem adaptações específicas, geralmente requerendo longo tempo evolutivo. Na região Neotropical, Echimyidae e Sigmodontinae, majoritariamente de pequeno porte, representam uma parte significativa da diversidade de mamíferos terrestres sul-americanos, abarcando linhagens com variados estilos de vida e hábitos locomotores. Discutiremos como estudos recentes, utilizando métodos filogenéticos comparativos e abordagens morfométricas, mostram que a evolução de estruturas morfológicas nesses grupos é frequentemente explicada por modelos adaptativos associados à locomoção. Em Echimyidae, a maioria das estruturas investigadas exibe adaptações locomotoras marcantes, enquanto em Sigmodontinae, mesmo em clados recentes, são observadas especializações similares, porém mais sutis. Discutiremos como essas descobertas desafiam a noção de um bauplan generalista, questionando até que ponto as especializações morfológicas são comuns. Por fim, abordaremos a relevância de explorar a variação morfológica nos roedores para entender as causas de seu sucesso evolutivo.

"Evolução da encefalização dos roedores caviomorfos e estruturas cerebrais associadas a aspectos morfofuncionais"
Palestrante: José Darival Ferreira
Resumo: Endêmico da América do Sul, o clado Caviomorpha se destaca como um dos grupos de roedores mais diversos morfologicamente. Essa diversidade também se reflete nos diferentes formatos e tamanhos de cérebros que os caviomorfos modernos apresentam. A partir do avanço recente de tecnologias não invasivas, a morfologia destes animais pode agora ser estudada a partir de modelos virtuais, possibilitando a inclusão de espécies fósseis no estudo comparado da sua neuromorfologia. O registro fóssil dos caviomorfos remonta sua história evolutiva desde o Eoceno, com seus registros mais antigos datando de 41 milhões de anos atrás. Nesta palestra, a história evolutiva dos caviomorfos será discutida a partir da análise das principais hipóteses adaptativas acerca do seu processo de encefalização. Além disso, suas estruturas cerebrais serão discutidas em relação aos seus diferentes nichos ecológicos, oferecendo interpretações morfofuncionais dos cérebros de roedores extintos. Com diversas hipóteses explicativas em jogo, a apresentação promete uma abordagem abrangente sobre a trajetória evolutiva e a complexidade cerebral dos roedores caviomorfos ao longo do tempo.

Resumo: Este simpósio reunirá pesquisadores(as) nos campos de Ecologia e Conservação de Xenarthra (preguiças, tatus e tamanduás), dando destaque àqueles(as) em início de carreira, com o objetivo de fomentar a contínua renovação no grupo de pesquisa. Com o intuito de promover discussões e impulsionar novos estudos, apresentaremos os recentes avanços alcançados nas diversas subdisciplinas relacionadas ao tema. Uma visão geral da pesquisa e conservação de Xenartros no Brasil será delineada, seguida por exemplos da aplicação de novas ferramentas de amostragem e abordagens analíticas em ecologia. Exploraremos a relevância de programas de conservação in-situ e ex-situ, destacando o papel dos zoológicos, e discutiremos abordagens emergentes, como as dimensões humanas da conservação. Debateremos meios de integrar ciência e prática na conservação dos xenartros, visando uma compreensão mais abrangente e holística das distintas facetas desse grupo tão importante para a história natural do continente americano.
 

"O uso de ferramentas analíticas complementares para elucidar aspectos tróficos e funcionais de tatus e tamanduás"
Palestrante: Marcelo Magioli
Resumo: Apesar de essencial para elucidar aspectos ecológicos das espécies, estudo de história natural ainda são escassos para muitas delas. Portanto, o emprego de novas ferramentas analíticas aliadas a metodologias tradicionais, pode auxiliar na obtenção desse tipo de conhecimento e ampliar seu alcance espaço-temporal. Nessa palestra, será apresentado o uso de um arcabouço analítico complementar envolvendo a análise isotópica, modelos de ocupação e ecologia da paisagem, visando ampliar o conhecimento sobre a ecologia trófica e funcional de tatus e tamanduás simpátricos, e a sua versatilidade no estudo de mamíferos.

"Diversidade e Conservação de Preguiças, Tamanduás e Tatus no Brasil: Desafios e Perspectivas"
Palestrante: Vinicius Alberici
Resumo: O Brasil abriga a maior diversidade mundial de Xenarthra, incluindo espécies endêmicas e ameaçadas, cujas populações são impactadas pelas atividades humanas. Desde 2009, o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (ICMBio/CPB) coordena o Processo de Avaliação do Estado de Conservação dos Xenartros Brasileiros, que embasa a Lista Nacional Oficial de Espécies Ameaçadas de Extinção. O ICMBio/CPB coordena também a elaboração e implementação dos Planos de Ação Nacional (PAN), políticas públicas que definem, por meio de um processo participativo, ações estratégicas e prioritárias para mitigar os impactos que põem em risco as espécies ameaçadas de extinção. Nesta apresentação serão abordados os principais desafios e as perspectivas para a conservação das preguiças, tamanduás e tatus no Brasil.

"Voando alto: Novas tecnologias para o avanço na pesquisa e conservação das preguiças-de-coleira"
Palestrante: Paloma Marques Santos
Resumo: O surgimento de novas ferramentas tecnológicas tem proporcionado aos pesquisadores da vida selvagem uma significativa otimização na coleta e análise de dados, promovendo um considerável avanço nos estudos biológicos. Espécies crípticas e de difícil detecção na natureza, podem ser especialmente beneficiadas pela utilização dessas tecnologias, entre elas as preguiças-de-coleira (Bradypus torquatus e B. crinitus). Dada a ecologia e biologia peculiares dessas espécies, diversos parâmetros populacionais permanecem desconhecidos ou pouco estudados, dificultando uma compreensão mais abrangente e aprofundada da ecologia e do comportamento desse grupo ameaçado. O propósito desta apresentação é expor e discutir como diferentes tecnologias têm contribuído para elucidar questões até então desconhecidas ou pouco exploradas em relação às populações de preguiças-de-coleira.

"Conectando a Ciência à Conservação Aplicada no Projeto Tatu Canastra"
Palestrante: Nina Attias
Resumo: A biologia da conservação desempenha um papel crucial na abordagem da atual crise da biodiversidade, fornecendo uma base científica para a implementação de estratégias de manejo e conservação. No entanto, a falta de articulação e comunicação eficaz entre pesquisadores e conservacionistas muitas vezes impede que esse conhecimento científico chegue de maneira oportuna aos responsáveis pela tomada de decisões e implementação de estratégias de conservação. Nesta apresentação, destacaremos o Programa de Conservação do Tatu Canastra como um exemplo prático. Este programa exemplifica como a condução de pesquisas científicas específicas pode preencher lacunas na compreensão da biologia da espécie, proporcionando uma base sólida para o desenvolvimento de estratégias de conservação realistas e eficazes. Ao compartilhar experiências e lições aprendidas, buscamos inspirar uma colaboração mais estreita entre pesquisadores, conservacionistas e tomadores de decisão, visando a efetiva preservação da biodiversidade e especialmente, dos Xenarthra.

"Conservação ex-situ; zoos e o studbook do tamanduá-bandeira"
Palestrante: Filipe Reis
Resumo: Os Zoológicos surgiram há muito tempo e foram se adequando às informações e realidades de cada época. Agora no século XXI, os zoos têm um papel muito claro, auxiliar espécies ameaçadas de extinção para que não desapareçam em um futuro próximo. Alguns pilares são importantes para que essa importante ferramenta seja de fato eficiente. Entre as várias formas de realizar o trabalho de conservação ex-situ, os programas de reprodução com controle genético e demográfico (studbook) se destacam pela importância em um futuro no qual a refaunação se tornará cada vez mais necessária. A palestra abordará o histórico e as principais funções de um zoológico moderno e o trabalho do programa de conservação ex-situ do ameaçado tamanduá-bandeira no Brasil, incluído como um dos objetivos do Plano de Ação Nacional do ICMBio.

"A contribuição das Dimensões Humanas para conservação de dois gigantes neotropicais"
Palestrante: Mariana Labão Catapani
Resumo: Integrar as dimensões humanas na conservação da biodiversidade é fundamental para compreender e influenciar comportamentos que ameaçam espécies e ecossistemas, aumentar o apoio das comunidades locais e partes interessadas relevantes, evitar conflitos e garantir o êxito das iniciativas de conservação. Serão apresentados estudos de caso em que a compreensão da percepção, conhecimento, valores e comportamentos humanos vem melhorando a convivência das pessoas com tamanduás-bandeira e tatus-canastra, contribuindo para a conservação dessas espécies.

Resumo: A morfologia dos molares é um dos assuntos mais complexos da dentição mamaliana, não sendo diferente para os roedores Sigmodontinae. Como um dos grupos mais diversos na região Neotropical, vários sigmodontineos possuem molares com morfologia complexa e extremamente modificada em relação ao padrão tribosfênico original. Dessa forma, o reconhecimento e denominação das estruturas topográficas dos molares vem sendo alvo de discussão desde o início do século XX. O entendimento destas estruturas é importante para diagnose e delimitação de espécies, bem como para inferências dos relacionamentos entre as linhagens. Tal fato motivou a proposta de diferentes sistemas nomenclaturais, cada qual apresentando limitações a sua aplicabilidade. Os objetivos deste simpósio são: recapitular as bases da nomenclatura dentária usada em Rodentia e sua relação com as denominações usadas em outras linhagens de mamíferos (palestra 1); apresentar uma revisão das nomenclaturas comumente aplicadas para Sigmodontinae: as tradicionais propostas de Hershkovitz (palestra 2) e de Reig (palestra 3); mostrar a aplicação destas propostas nomenclaturais, com ênfase no reconhecimento da diversidade de Sigmodontinae (palestra 4); apresentar a proposta nomenclatural mais recente de Sigmodontinae, denominada ICAMER (palestra 5); e discutir a aplicabilidade desta última (palestra 6). Esperamos tratar os principais pontos das nomenclaturas utilizadas e fornecer ferramentas para uma reflexão de futuros desafios para o reconhecimento e terminologia das estruturas do molar de Sigmodontinae.
 

"A base das nomenclaturas dentárias: a teoria tritubercular"
Palestrante e coordenador: Gilson Iack-Ximenes
Resumo: As nomenclaturas dentárias aplicadas atualmente em Rodentia são todas baseadas em Wood & Wilson (1936). Estes autores basearam-se nas conclusões e propostas de autores prévios para diferentes grupos (Schaub, 1925; Wilson, 1925; Hinton, 1926, Frechkop, 1932; Stirton, 1932; Wood, 1935). Porém a base fundamental de todos estes trabalhos é a teoria tritubercular (ou tribosfênica) de Cope-Osborn (Cope, 1883; Osborn, 1888, 1897, 1908), que foi reavaliada em diversos aspectos ao longo do séc. XX (Tims, 1903; Gidley, 1906; Gregory, 1916; Butler, 1941). A compreensão da nomenclatura tribosfênica é fundamental se quisermos traçar homologia entre grupos. Isso é fundamental pois as linhagens cenozóicas de Theria apresentam uma grande diversidade de transformações nas estruturas originais da coroa dentária. Com objetivo de esclarecer os fundamentos das nomenclaturas dentárias vigentes apresentarei as bases da nomenclatura do dente tribosfênico e as denominações propostas previamente a hipótese tritubercular, que foram e são aplicadas nas nomenclaturas dentárias contemporâneas.

"Trinta e três anos de influência de um renomado mastozóologo, o bom e velho Hershkovitz!"
Palestrante: Paula Ferracioli
Resumo: Hershkovitz (1944), foi um dos primeiros e mais importante mastozoólogo a refletir sobre os molares e suas nomenclaturas após o trabalho de Wood & Wilson (1936). Em 1962, sua nomenclatura estava bem desenvolvida e incluída em um trabalho mais amplo sobre roedores sul americanos. O apelo de seus trabalhos fizeram com que sua proposta tenha sido amplamente usada frente a outras. Todavia, as terminologias criadas por ele para descrever a variação da superfície das coroas dos molares superiores e inferiores de pequenos roedores, que somadas chegam a quase 70, podem ter se tornado um grande desafio para os estudantes que iniciaram suas pesquisas na mastozoologia, vide Reig (1977), que relata que as combinações propostas por Hershkovitz “eram confusas e difíceis de memorizar”. Suas propostas foram sendo desenvolvidas ao longo dos anos, diferente das propostas subsequentes. Esse desenvolvimento incluiu a adoção de termos e entendimentos de trabalhos subsequentes, como o do Reig. Em 1972 essa nomenclatura foi tratada individualmente. Finalmente, em 1993 essa nomenclatura adota sugestões de outra recém-proposta.

"Onze nomenclaturas e uma proposta unificada: Reig (1977) e suas atualizações"
Palestrante: Carolina Pires
Resumo: Uma das nomenclaturas dentárias mais populares, em especial entre os pesquisadores que estudam a subfamília Sigmodontinae, é a proposta de Reig (1977). Esta vem sendo adotada há décadas por ser aplicável a vários grupos taxonômicos e por utilizar princípios mnemônicos. A partir de uma revisão bibliográfica, o autor encontrou 11 nomenclaturas para os componentes dentários e apontou a necessidade de esclarecer as diferenças entre elas. Baseado em informações sobre a homologia das cúspides dos mamíferos, Reig (1977) propôs um sistema unificador, incluindo vários elementos das nomenclaturas prévias. No entanto, estudos recentes vêm fornecendo contribuições, descrevendo e nomeando estruturas na superfície dos molares que não haviam sido contempladas por Reig (1977).

"De quem é esse molar? O estudo de roedores Sigmodontinae quaternários."
Palestrante: Natália L. Boroni
Resumo: Os roedores Sigmodontinae são um dos grupos mais diversos entre os mamíferos neotropicais. Essa diversidade se reflete na forma dos seus molares, que possuem diferentes topologias. Assim, estudar a forma e estruturas dos molares desses roedores é um ótimo atributo taxonômico, especialmente quando analisamos fragmentos incompletos, como os fósseis. O registro fóssil desses pequenos roedores é dominado por fragmentos de maxila e mandíbula com alguns molares presentes ou apenas molares isolados. Portanto, o estudo desses molares é essencial para identificação taxonômica dos fósseis. Nesta palestra abordaremos o estudo de roedores do quaternário através da análise morfológica dos molares, baseado na nomenclatura dental proposta por Reig (1977). Durante a palestra serão apresentados exemplos da variação morfológica dos molares em diferentes tribos de roedores Sigmodontinae coletados em cavernas em Serra da Mesa, Goiás.

"Nomenclatura dentária no século XXI: a proposta do sistema ICAMER (Barbière et al. 2019)"
Palestrante: Aldo Caccavo
Resumo: Depois de pouco mais de 40 anos de uso quase hegemônico da proposta feita por Reig (1977), um novo sistema de nomenclatura para o padrão de oclusão em roedores Sigmodontinae foi feita por Barbière et al (2019). Estes autores forneceram um modelo de desenvolvimento dos elementos dos molares com base em repetições de uma unidade cuspal básica, que se diferenciam a partir de diferentes rotações e do espelhamento destas unidades entre os lados do molar. A partir desta lógica de desenvolvimento, os autores propuseram o sistema ICAMER, que traz uma nova nomenclatura aliada ao conceito de homologia primária dos elementos oclusais. A proposta é uma interpretação distinta sobre origem e composição de algumas estruturas topográficas reconhecidas por sistemas anteriores e uma explicação evolutiva para estruturas oclusais que não seguem a lógica por trás do sistema ICAMER.

"ICAMER: uma proposta com destino mais parecido à de Hershkovitz ou de Reig?"
Palestrante: Filipe Souza Gudinho
Resumo: A proposta conhecida como ICAMER é bem recente, feita há apenas cinco anos atrás. Ela rivaliza com as nomenclaturas de Hershkovitz (1944, 1962, 1972, 1993) e Reig (1977) que são aplicadas (ou não) há mais de 40 anos. A ideia por trás do ICAMER é simples de entender, o que talvez não seja o caso da sua nomenclatura. Mas o que se tem a dizer sobre a sua aplicação ao longo desse curto tempo de vida? A proposta tem cumprido o papel de descrever com fidelidade a morfologia molar dos roedores Sigmodontinae? Quais são os prós e contras da sua aplicação?

 
Resumo: Os modais de transporte no Brasil abrangem extensas redes de rodovias, ferrovias, aviação e hidrovias, apresentando desafios significativos para a mastofauna. Com mais de 1,7 milhão de quilômetros de rodovias e 30 mil quilômetros de ferrovias, o atropelamento de animais silvestres é uma preocupação, principalmente para a mastofauna brasileira, que perde anualmente aproximadamente 2 milhões de mamíferos para as estradas do Brasil (González-Suárez et al., 2018). O estudo de Grilo et al (2018) compilou 21.512 espécimes atropelados, e deste total, 42% são mamíferos de 99 espécies diferentes, demonstrando o impacto para este grupo. Conhecer o impacto do atropelamento de fauna e discutir estratégias para minimizar este impacto é importante não apenas para a conservação dos mamíferos, como também para o planejamento e gestão de novos empreendimentos e a segurança dos usuários das rodovias, uma vez que os acidentes com mamíferos de grande porte, como antas, tamanduás-bandeira e capivaras, podem causar danos materiais, psicológicos e físicos para as pessoas ou até mesmo serem fatais (Abra et al.,30 2019; Ascensão et al., 2021). Nesse contexto, a Rede Brasileira de Especialistas em Ecologia de Transportes (REET Brasil) surge como uma entidade dedicada a abordar esses desafios. Composta por pesquisadores, consultores, gestores e diversos outros atores sociais envolvidos, a REET Brasil tem como missão promover, defender e difundir informações técnicas e científicas relacionadas à ecologia de transportes, contribuindo para o desenvolvimento sustentável, conservação da biodiversidade e segurança operacional dos modais. O Simpósio proposto pela REET Brasil no Congresso Brasileiro de Mastozoologia visa aprofundar a discussão sobre os impactos dos modais na mastofauna, destacando estratégias integradas, medidas mitigadoras e políticas públicas. O evento reúne especialistas de diversas instituições para abordar temas como atropelamentos, aproveitamento científico de carcaças, influência da atividade humana, medidas mitigadoras e dimensões sociais na mitigação, oferecendo uma visão abrangente e inovadora para a coexistência sustentável entre a infraestrutura de transporte e a biodiversidade no Brasil.
 

"Atropelamento de mamíferos e o aproveitamento das carcaças"
Palestrante e coordenadora: Cecília Bueno
Resumo: O expressivo número de cerca de 2 milhões de mamíferos mortos por colisões com modais de transporte é uma perda importante para a biodiversidade e também acaba mostrando-se como um desperdício de material biológico. Por isso, o aproveitamento científico dos animais silvestres atropelados vem crescendo entre os pesquisadores brasileiros. Este aproveitamento gera uma oportunidade de aumentar o conhecimento sobre nossa fauna. A palestra trará exemplos do Núcleo de Estudos de Vertebrados Silvestres (NEVS) da Universidade Veiga de Almeida que realiza o aproveitamento das carcaças de mamíferos silvestres e desenvolve pesquisas sobre biogeografia, genética, epidemiologia, dieta, contaminantes, hemo, endo e ectoparasitos desde 2009, em colaboração com pesquisadores da Fiocruz, Museu Nacional, UFRJ, UFRRJ, UFF e Inca. Os estudos já resultaram em informações relevantes para ciência, com o descobrimento de espécies novas de endoparasitos, contribuição para genética de várias espécies e para o melhor conhecimento da dieta alimentar dos mamíferos silvestres. Estas descobertas auxiliam na conservação das espécies e avanços tanto na Biologia quanto na medicina veterinária, além de formar mais especialistas, visto que proporciona a construção de estudos monográficos, dissertações e teses de doutorado.

"Panorama geral do uso da modelagem em estudos sobre atropelamentos de mamíferos"
Palestrante: Lucas Gonçalves da Silva
Resumo: O uso crescente de ferramentas de modelagem ecológica para estudos da biodiversidade abre um leque de oportunidades para pesquisas e tomada de decisão sobre o impacto gerado pela infraestrutura de transporte sobre a fauna. O atropelamento de fauna é a principal causa de mortalidade dos mamíferos no Brasil e predizer os impactos causados por essa condicionante tem resultado direto na conservação no longo prazo. A palestra trará exemplos de projetos com o uso das modelagens espaciais como ferramenta de gestão ambiental e de base para políticas públicas. Além disso, inferências de como é possível diminuir a mortalidade de mamíferos brasileiros com instrumentos mais eficientes de planejamento estratégico para conservação.

"Efeitos da Atividade Humana no Atropelamento de Mamíferos"
Palestrante: Luis Renato Rezende Bernardo
Resumo: Inicialmente, será abordada a escassez de estudos sobre a influência da atividade humana nos atropelamentos. Posteriormente, serão apresentados os resultados de quatro anos de monitoramento de atropelamento de mamíferos na rodovia BR-163, no estado do Mato Grosso. Neste estudo, foram analisados a influência da ocupação do solo, dos incêndios, da sazonalidade e características do tráfego da rodovia sobre as taxas de atropelamento de mamíferos, tanto no bioma Amazônia quanto no bioma Cerrado.

"Efetividade de estruturas de Passagens de Fauna na minimização dos impactos ambientais das rodovias na mastofauna: Estudo de caso da BR-101/RJ"
Palestrante: Marcello Guerreiro Gonçalves
Resumo: Apresentação do Estudo de caso do monitoramento dos impactos ambientais da Rodovia BR-101 na Fauna Silvestre, com destaque para a mastofauna da região da bacia hidrográfica do Rio São João e APA do Mico Leão Dourado. O maior complexo de estruturas de travessia de fauna instalado em rodovia federal no Brasil, localizado em região sensível, com a presença de espécies ameaçadas de extinção e no seio das Unidades de Conservação, importantes na região de preservação de fragmentos de Mata Atlântica, inserido na formação de Floresta ombrófila densa de baixada, habitat do Mico Leão Dourado, onde se localizam três importantes unidades de conservação, duas de proteção integral e uma de uso sustentável.O Programa de monitoramento de atropelamentos de fauna conta com dados desde 2014 e o monitoramento das estruturas de travessia de fauna possui dois anos de monitoramento. Ao todo são 36 estruturas, sendo o primeiro viaduto vegetado em rodovia federal do Brasil, 10 passagens superiores inéditas e 15 estruturas de travessia inferiores. Nesta palestra iremos apresentar nosso desenho experimental, hipóteses testadas, imagens inéditas de travessias de animais silvestres, análises temporais e espaciais, e as relações entre efetividade das passagens de fauna e a estrutura funcional da paisagem, dando destaque para a mastofauna.

"Dimensões humanas da mitigação de impactos das rodovias: da pesquisa social ao uso de tecnologias"
Palestrante: Yuri Geraldo Gomes Ribeiro
Resumo: Nesta fala serão explorados os conceitos de dimensões humanas no contexto da ecologia de estradas como inserção ao tema. Além disso, a problemática das colisões veiculares com a fauna de mamíferos será contextualizada da perspectiva de uma questão de coexistência. Os esforços do Instituto de Conservação de Animais Silvestres – ICAS neste sentido serão listados, incluindo as iniciativas mais recentes e novas perspectivas como a compreensão de como as pessoas lidam com a adoção de medidas de mitigação, além de questões relacionadas ao comportamento humano. Por fim, outras possibilidades de capturar a dimensão social através de ferramentas, como a cultorômica da conservação, serão abordadas.

"Políticas Públicas para Mitigação de Atropelamentos de Mamíferos no Brasil: Desafios e Oportunidades"
Palestrante: Erica Naomi Saito 
Resumo: Serão apresentadas, de maneira abrangente, as políticas públicas voltadas para a mitigação de impactos das infraestruturas de transporte no Brasil, com ênfase no atropelamento de mamíferos. Serão explorados o panorama atual, os avanços alcançados e os desafios remanescentes nesse contexto crucial para o desenvolvimento sustentável do país. O objetivo é oferecer uma visão das ações governamentais, em diferentes escalas de competência, identificando lacunas e propondo soluções para promover uma infraestrutura mais eficiente e sustentável. As estratégias de mitigação serão exemplificadas por meio dos casos de sucessos no Brasil, destacando as lições aprendidas para inspirar soluções factíveis e para fortalecer e expandir as políticas públicas existentes para conservação da mastofauna. A palestra busca inspirar uma reflexão crítica sobre as políticas públicas atuais, incentivando o diálogo construtivo e propondo caminhos para o aprimoramento das práticas existentes.

Resumo: A Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB) é um projeto de longa duração do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) e tem como foco a pesquisa e conservação da anta brasileira (Tapirus terrestris) em cinco biomas brasileiros.
 

"Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira: Uma espécie, cinco biomas"
Palestrante e coordenadora: Emília Patricia Medici
Resumo: A atuação nos diferentes biomas possibilita compreender a ecologia do animal, promovendo a efetiva implementação de estratégias de conservação para populações da espécie, por toda a sua área de distribuição.

"A Genética como Ferramenta para a Conservação"
Palestrante: Gabriela M. de Pinho
Resumo: Informações sobre estimativa de parentesco, genética e genômica de populações de antas, auxiliam nas tomadas de decisões e futuras perspectivas de estudos, para a conservação dessa espécie em todo país.

"A Saúde da Anta Brasileira em Diferentes Cenários de Antropização"
Palestrante: Fernanda C. Jacoby
Resumo: A anta é considerada uma espécie sentinela, monitorando sua saúde, é possível prever ameaças que podem acometer outras espécies, inclusive o ser humano. Essa compreensão auxilia na adoção de estratégias mais efetivas, em programas de saúde pública.

"Toxicologia – Antas e Seres Humanos"
Palestrante: Alexandra T. Cumerlato
Resumo: O Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos no mundo. A realização de pesquisas em toxicologia tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas eficazes sobre a utilização e flexibilização de agrotóxicos no Brasil.

"Estratégias de Comunicação para a Conservação de uma Espécie com Problemas de Relações Públicas"
Palestrante: Raquel Alves
Resumo: A comunicação da INCAB tem como missão transmitir a importância da conservação da anta brasileira para a manutenção da integridade dos ecossistemas, estabelecendo pessoas engajadas na causa, levando consigo a bandeira da conservação da espécie.

"Coexistência entre Antas e Pessoas: Da admiração às ameaças"
Palestrante: Roberta M. Paolino
Resumo: O conhecimento ecológico local sobre a biologia da espécie, obtido através da experiência das pessoas, é de fundamental importância para a resolução de conflitos, promovendo a coexistência.

Resumo: O Simpósio apresentará várias iniciativas com exemplos práticos da aplicação da gestão da coexistência humano-fauna em diferentes biomas brasileiros (Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica), com diversas espécies-foco de mamíferos ameaçados (onça-pintada, tatu-canastra), abundantes (capivara, quati) e exóticos (cachorro-doméstico, gato-doméstico), e de múltiplos setores (governamental, privado, terceiro setor). Com o objetivo de compartilhar experiências, discutindo desafios e oportunidades, o Simpósio buscará divulgar práticas exitosas na mitigação e gestão de conflitos envolvendo fauna, focando nos processos de construção dessas estratégias. Ao trazer a perspectiva de diversos atores da sociedade, desde acadêmicos, a gestores públicos e empresários, o Simpósio visa incentivar e evidenciar como promover a coexistência humano-fauna em conjunto com ações de pesquisa potencializando a conservação de mamíferos no Brasil.
 

"Transdisciplinaridade e co-produção para a coexistência humano-fauna"
Palestrante e coordenadora: Katia Maria Paschoaletto Micchi de Barros Ferraz
Resumo: Pessoas e fauna têm compartilhado paisagens e recursos, resultando em interações cada vez mais frequentes, com impactos negativos ou positivos, tangíveis ou intangíveis para ambos os envolvidos. Mitigar os impactos negativos decorrentes das interações entre pessoas e fauna é essencial para que uma coexistência justa e sustentável seja possível. Vizinhos Silvestres é um projeto de colaboração transdisciplinar, fundamentado na coprodução de conhecimento e aprendizagem mútua, que busca transformar o conhecimento coproduzido em conhecimento acessível, útil e acionável, com vistas a promover mudanças e subsidiar processos de tomada de decisão na gestão para a coexistência humano-fauna. O projeto estrutura-se em dois componentes, pesquisa e ação. O componente de pesquisa objetiva realizar o levantamento e análise das interações humano-fauna, a avaliação da percepção das pessoas sobre as interações, e a identificação de riscos e oportunidades para a coexistência. O componente de ação objetiva realizar intervenções na paisagem, nas pessoas, e nas políticas públicas e instituições com o objetivo de promover mudanças para a coexistência. Assim, a coexistência vem sendo utilizada como eixo transversal da estratégia pesquisa-implementação orientada à solução de problemas complexos. Os resultados demonstram que o envolvimento de múltiplos stakeholders em iniciativas bottom-up, bem como a coprodução de conhecimento, orientam melhor o processo de tomada de decisão na gestão das interações humano-fauna, reduzindo incertezas e transformando riscos em oportunidades para a coexistência. Exemplos de interações com mamíferos (p. ex., capivaras, quatis, onça-parda) ilustram a abordagem e os resultados promissores do projeto.

"Coexistindo com onças no Parque Nacional do Iguaçu"
Palestrante: Thiago Reginato 
Resumo: O Parque Nacional do Iguaçu, criado em 1939 e abrangendo uma extensão de 169 mil hectares no extremo oeste do estado do Paraná, destaca-se como o maior remanescente de floresta atlântica do sul do Brasil. Em 2018, teve início o Projeto Onças do Iguaçu que trabalha nas áreas de pesquisa, ações de engajamento e coexistência. Inicialmente foi realizado um mapeamento das propriedades lindeiras à unidade de conservação e aplicando questionário estruturado para avaliar a percepção da comunidade sobre as onças e o Parque Nacional do Iguaçu. Desenvolvemos atividades de engajamento personalizadas para diversos públicos e objetivos diferentes, moldando-se conforme a necessidade do momento. Atuamos nos dez municípios, fazendo visitas rotineiras nas propriedades para capacitar e orientar os proprietários de áreas rurais a compreender a importância dos grandes felinos, além de técnicas de manejo adequadas para evitar a predação. Elaboramos um protocolo de atendimento à predação, adaptado à realidade local e à capacidade de ação da equipe. Divulgamos massivamente o contato do Projeto nas comunidades e respondemos imediatamente a eventos de predação. Desta forma, estreitamos laços e conseguimos promover a coexistência com grandes felinos.

"Projeto Canastras e Colmeias: promovendo uma coexistência pacífica entre apicultores e tatus-canastra"
Palestrante: Arnaud J. L. Desbiez
Resumo: No fragmentado Cerrado do Mato Grosso do Sul, tatus-canastra vinham causando danos aos apiários ao derrubarem colmeias em busca de larvas de abelhas, representando uma ameaça aos meios de subsistência dos apicultores. Essa situação, por sua vez, vinha levando a atos de retaliação contra essa espécie ameaçada. Contudo, a pesquisa social revelou uma disposição significativa do grupo na busca por soluções não-letais, destacando também que o conflito central era de natureza material, sem desentendimentos sociais subjacentes. Além disso, a pesquisa evidenciou a urgência em encontrar soluções que reduzissem os danos, uma vez que a tolerância em relação à espécie estava diminuindo. A apresentação abordará os caminhos trilhados pelo Projeto Canastras e Colmeias, iniciativa que vem se consolidando e expandindo ao promover a coexistência pacífica entre apicultores e tatus-canastra. No contexto do projeto, apicultores que implementam medidas de mitigação para evitar ataques dos animais às colmeias são certificados e recompensados pelo valor agregado ao mel proveniente de apiários protegidos. Dessa forma, apicultores e tatus-canastra vem juntos prosperando.

"Gestão da coexistência para o desenvolvimento sustentável na Amazônia: o caso do Projeto Fauna Sustentável"
Palestrante: Iara Ramos 
Resumo: O Projeto Fauna Sustentável é uma iniciativa da Universidade Federal do Pará apoiado pelo Consórcio de Pesquisa Brasil Noruega (BRC) e se dedica a incorporar a Coexistência com grandes felinos nos setores produtivos do agronegócio e mineração na Amazônia Oriental, em Paragominas. Na região recorde de desmatamento e de faturamento do agronegócio, o Projeto constrói uma nova forma de enxergar a biodiversidade, a de que existir junto de forma sustentável é possível. Nessa oportunidade, será apresentado os resultados do Projeto desde junho de 2022 na gestão da Coexistência em sistemas produtivos e de mineração, onde atuamos no planejamento para coexistência utilizando-se da segurança do trabalho marketing social, gestão de stakeholders, manejo anti-predação, estratégias de engajamento, redes sociais, articulação de parcerias institucionais e com o poder público local. Em breve, Paragominas será o primeiro município do país a ter um plano de coexistência voltado para suas atividades econômicas. Para além da Coexistência com a fauna, o Projeto Fauna Sustentável é um exemplo de como a parceria entre universidade, setor privado e governo é fundamental para a sustentabilidade na Amazônia.

"Como gerir (co)existência com mamíferos silvestres em agroecossistemas?"
Palestrante: Bruna Lima Ferreira 
Resumo: Raposinhas e suçuaranas têm sido o cerne do Programa de Conservação Mamíferos do Cerrado (PCMC) desde 2009. Ao acompanhar as vidas de indivíduos destas espécies em agroecossistemas por anos, escancara-se a urgência de ações e pesquisas sociais que ouçam, incluam e engajem as comunidades locais para atuarem na gestão ambiental de seus territórios. Esta percepção do PCMC se aliou a de órgãos públicos, entidades privadas e do terceiro setor para desenvolver projetos que atuem para conservação da biodiversidade, tendo como um dos pilares a coexistência entre humanos, fauna e áreas protegidas. Embora atuem, aparentemente, de forma independente, os projetos do PCMC, em desenvolvimento no sudeste de Goiás, abordam aspectos e temáticas distintas para alcançar objetivos em comum, formando um mosaico de dados e ações práticas que formatam políticas públicas e geram impactos regionais. Atuando nas relações de cães domésticos com a fauna no Parque Estadual Serra de Caldas Novas (e seu entorno), o Projeto Amora tem a Saúde Única como eixo estruturante. Já o Raposinhas do Pontal se concentra na conservação de canídeos em meio a mudanças no uso do solo relacionadas a troca da pecuária pela monocultura. Por fim, o Suçuaranas Detetives coloca em foco a coexistência de fazendeiros com a suçuarana, trabalhando também com comunidades escolares e outros atores para gerar, além de ações pontuais que reduzam conflitos, planos colaborativos para coexistência humano-fauna. As pesquisadoras nos projetos moram e vivenciam as comunidades, fazendo conexões com a região que geram frutos e reflexões para além da própria prática profissional.

"Iniciativas em políticas públicas para a gestão de conflitos e promoção de coexistência humano-fauna"
Palestrante: Aracelis Piovezani Silva
Resumo: O Departamento de Gestão da Fauna Silvestre – DeFau é o ente responsável pela gestão de fauna silvestre no Estado de São Paulo, atuando inclusive em situações de conflitos relacionados a diversas espécies de mamíferos. Do ponto de vista humano, tais situações variam desde riscos à saúde pública, com participação no ciclo de transmissão de doenças, a prejuízos econômicos, com a predação de animais de criação, passando por situações que geram sentimentos negativos em relação à fauna, como medo ou incômodos por barulho excessivo ou sujeira. No simpósio, teremos a oportunidade de apresentar os conflitos mais comuns e quais espécies relacionadas, além de trazer exemplos de atuação do órgão estadual ao gerenciar essas situações, o que eventualmente inclui a autorização para manejo da fauna silvestre. Entre os exemplos a serem abordados, há que se mencionar a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), a espécie nativa que possui o maior número de autorizações para manejo no Estado, motivados por sua relação com a Febre Maculosa Brasileira. Adicionalmente, outras iniciativas em políticas públicas que visam a difusão e promoção da coexistência serão apresentadas.

Resumo: Os pequenos mamíferos, como os roedores e os morcegos, são os grupos mais diversos de Mammalia, tanto em termos taxonômicos quanto ecológicos, morfológicos e comportamentais. Por conta disso, são centrais nos ecossistemas, atuando como polinizadores, dispersores de sementes, engenheiros de ecossistemas e agentes de fluxo de energia. Além disso, frequentemente atuam como reservatórios e vetores de zoonoses de relevância médica. Dessa forma, são excelentes modelos para se estudar comportamento e as consequências evolutivas e ecológicas da variação comportamental. A observação in situ é praticamente inviável devido à natureza noturna e inconspícua desses animais, o que torna seu comportamento virtualmente desconhecido. O objetivo da presente proposta é apresentar as dificuldades e os engenhosos métodos empregados para o estudo do comportamento de pequenos mamíferos. Espera-se difundir e popularizar a coleta de dados de pequenos mamíferos no Brasil.
 

"Afinal, é possível identificar personalidade no ratinho-goitacá (Cerradomys goytaca)?"
Palestrante e coordenadora: Gisela Sobral 
Resumo: Para se estudar personalidade de roedores selvagens, geralmente se utilizam aparatos validados para os roedores de laboratório. Essa abordagem tem possibilitado um entendimento cada vez melhor da personalidade e suas implicações ecológicas e evolutivas. Todavia, algumas espécies como o Cerradomys goytaca, são muito suscetíveis ao estresse do manuseio. É possível que tal susceptibilidade dificulte a repetibilidade dos comportamentos, inviabilizando o que chamamos de "personalidade". Ainda assim, parecem emergir padrões sexuais que, por sua vez, também são de grande importância.

"Quem é você? Os desafios de responder questões proximais em estudos etológicos com roedores"
Palestrante: Lilian C. Luchesi
Resumo: Roedores compõem o grupo diverso em anatomia, tamanho e padrões comportamentais. Estudos que consideram características individuais enfrentam questões de reconhecimento dos indivíduos, muitas vezes pela ausência de dimorfismo sexual e coloração críptica. Da mesma forma, manusear indivíduos nos procedimentos causando o mínimo estresse se torna um desafio. Discutiremos formas de transpor esses obstáculos a partir de estudos que buscaram responder questões sobre comportamento social em roedores caviomorfos.

"Do campo ao laboratório: compreendendo a personalidade dos morcegos através de testes adaptados"
Palestrante: Pedro Henrique Miguel
Resumo: Os morcegos, representando cerca de 20% de todos os mamíferos do planeta e exibindo grande diversidade ecológica e morfológica, são modelos importantes para estudos de personalidade. Contudo, a realização de estudos in situ abrangendo as dimensões da personalidade animal é desafiadora devido à diversidade de ambientes, variação individual e complexidade das interações. Dessa forma, é necessário a compreensão primeiramente ex situ, com adaptações de testes já conhecidos. Os resultados revelaram repetibilidade nos comportamentos de agressividade, exploração e ousadia. Assim, os testes realizados em laboratório permitem a expansão para testes in situ, simplificando para o teste único da bolsa de manuseio, facilmente reproduzível em campo.

"Entre gritos e sussurros: revelando os enigmas da comunicação acústica de roedores"
Palestrante: Hugo Ferreira
Resumo: A bioacústica pode ser uma importante ferramenta de investigação sobre o comportamento dos roedores brasileiros. Os sons emitidos por essas espécies desempenham um papel crucial nas interações intraespecíficas e seu estudo nos permite aprimorar a compreensão sobre o comportamento e dinâmicas sociais. Todavia, lidar com as propriedades físicas do som e como os indivíduos administram a expressão desses sinais se demonstra desafiador.

"Uma aventura no espaço com Clyomys laticeps"
Palestrante: Claire Pauline Röpke Ferrando
Resumo: Estudos sobre as espécies em condições de vida livre são desafiadores, especialmente os de hábitos crípticos. Dados de uso do espaço podem ser um bom ponto de partida para se conhecer uma espécie, como foi o caso do roedor semi-fossorial Clyomys laticeps. A combinação das técnicas de carretel de linha e telemetria revelou informações inéditas sobre a espécie, não somente sobre parâmetros do sistema social, mas também sobre a sua biologia e ecologia.

"Desvendando o tempo no subterrâneo com o uso de biologgers"
Palestrante: Patricia Tachinardi
Resumo: Tuco-tucos (Ctenomys coludo) são roedores subterrâneos e passam a maior parte do tempo em seus túneis, desprovidos das pistas ambientais que demarcam os ciclos de dia/noite. Mesmo nessas condições, esses animais apresentam ritmos circadianos e sazonais, cujos detalhes estamos desvendando por meio do uso de biologgers, sensores presos aos animais que possibilitam o registro de atividade locomotora, temperatura corporal e exposição à luz.

Resumo: O estudo de mamíferos marinhos é crucial para a compreensão dos ecossistemas aquáticos e para promover a conservação das espécies que neles habitam. Recentemente, os avanços tecnológicos têm desempenhado um papel fundamental no aprimoramento de métodos de monitoramento e no aumento de conhecimento biológico dos mamíferos marinhos, que permitiram inclusive melhores práticas de conservação. O simpósio "Ferramentas inovadoras para estudo de mamíferos marinhos" tem como objetivo explorar e discutir as mais recentes abordagens tecnológicas, metodológicas e interdisciplinares no estudo e conservação desse grupo de mamíferos. Esse simpósio abordará temas como o uso da telemetria em mamíferos marinhos para conhecer parâmetros ambientais, além de seus movimentos de dispersão e migração, a aplicação da inteligência artificial na descoberta de padrões biológicos, o emprego de drones para monitoramento de pinípedes sul-americanos, os desafios e inovações na radiotelemetria do peixe-boi-marinho, além das análises moleculares para compreensão da biologia e problemas de conservação de mamíferos marinhos, incluindo o diagnóstico molecular de enfermidades infecciosas como a gripe aviária. Ao reunir oceanógrafos, biólogos e veterinários, o simpósio busca promover a troca de experiências e conhecimento sobre os últimos avanços tecnológicos na área da mastozoologia marinha, contribuindo assim para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes de e de enfrentamento das principais ameaças à conservação marinha. A discussão com especialistas de diversas áreas é uma iniciativa muito importante para enfrentar de maneira realista os desafios contemporâneos relacionados à preservação dos habitats marinhos e à proteção da biodiversidade global dos oceanos.
 

"Uso de ferramentas moleculares para compreensão de aspectos da biologia de mamíferos marinhos"
Palestrante e coordenadora: Larissa Rosa de Oliveira (GEMARS)
Resumo: Os estudos que utilizam ferramentas moleculares na compreensão da biologia e história natural dos mamíferos marinhos analisam determinadas regiões do DNA e até mesmo genomas completos para avaliar a diversidade genética de populações ou espécies no escopo do problema a ser estudado. Os marcadores moleculares são loci gênicos que podem ser facilmente rastreados e quantificados em uma população e podem estar associados a um determinado gene ou característica de interesse. Apesar dos marcadores moleculares tradicionais terem sido amplamente utilizados nas últimas décadas, o advento do sequenciamento de última geração, vem permitindo gradualmente sua substituição por análises de grande cobertura genômica, o que aumenta o grau de resolução dos seus resultados. Nesta palestra serão apresentados estudos recentes sobre espécies brasileiras e sul-americanas de mamíferos marinhos que utilizaram tanto marcadores moleculares tradicionais quanto dados genômicos, para detectação de estrutura populacional, níveis de migração e fluxo gênico, níveis de parentesco, definição do status taxonômico, identificação de unidades genéticas prioritárias de conservação, relações filogeográficas e filogenéticas, além da identificação de caça e comércio ilegais de espécies protegidas. Em adição, devido aos surtos recentes de doenças infecciosas e sua alta mortalidade em algumas espécies de mamíferos marinhos, como a influenza aviária de alta patogenicidade, será discutida a importância do diagnóstico molecular na vigilância ativa dessas enfermidades nesse grupo de animais, bem como para a saúde dos oceanos.

"Inteligência Aplicação da Artificial em estudos com mamíferos aquáticos"
Palestrante: Carlos de Oliveira (VizLab Unisinos)
Resumo: A utilização da inteligência artificial (IA) e suas ferramentas, como machine learning e deep learning, em estudos de biodiversidade representam uma valiosa contribuição para a análise de extensos conjuntos de dados, compreensão de padrões complexos e facilitação na tomada de decisões de conservação. No contexto dos estudos com mamíferos marinhos, a IA emerge como uma ferramenta essencial e inovadora, com algoritmos avançados na busca de padrões capazes de processar dados provenientes de variadas fontes, como imagens de satélite, drones, sensores remotos, armadilhas fotográficas, gravações sonoras, etc. Essa abordagem possibilita a identificação automática de espécies, a avaliação da distribuição geográfica, abundância populacional e impactos ambientais sobre as espécies de mamíferos marinhos. Essa eficiência na descoberta de padrões contribui para otimizar projetos de pesquisa e programas de conservação, permitindo uma resposta mais ágil às mudanças nas populações ou às ameaças ambientais. Na esfera da ecologia, a IA é empregada para modelar interações complexas entre mamíferos marinhos e seus habitats, considerando variáveis como clima, relevo e presença de predadores. Esses modelos preditivos proporcionam uma compreensão mais aprofundada das dinâmicas ecológicas, facilitando a implementação de estratégias de conservação mais eficazes. Em síntese, a integração da IA aos estudos da biodiversidade relacionados a mamíferos marinhos, não apenas fortalece a base científica, mas também oferece ferramentas práticas e eficientes para a gestão sustentável, a tomada de decisões dos ecossistemas marinhos e a conservação das suas espécies.

"O uso de drones em estudos com mamíferos marinhos: da ecologia à conservação das espécies"
Palestrante: Natália Procksch (LEM Unisinos)
Resumo: Esta apresentação traz uma breve revisão sobre o uso de drones para estudos com mamíferos marinhos e seus resultados para a ecologia e conservação das espécies. O uso de drones, tradicionalmente associado a censos aéreos e monitoramento de fauna, tem se destacado em outras áreas da biologia. Constantemente em transformação, a tecnologia aliada ao uso dessa ferramenta possibilita o acesso a áreas remotas, com coleta de dados minimizando o distúrbio das espécies e garantindo a segurança dos pesquisadores. Nessa palestra serão apresentados estudos com o uso de drones em cetáceos e pinípedes sul-americanos, como estimativas de abundância, comportamento, foto-identificação e o impacto do turismo embarcado em mamíferos marinhos em geral. Além da expansão do conhecimento científico, os dados coletados podem ser utilizados para educação ambiental, turismo sustentável e gestão de áreas protegidas, abrangendo diversas áreas de atuação com um simples equipamento. No Brasil, esta ferramenta tem sido cada vez mais utilizada para estudos com mamíferos marinhos, resultando em informações sobre ecologia, comportamento e conservação das espécies.

"Desafios da inovação na radiotelemetria do peixe-boi-marinho."
Palestrante: Vitor Luz Carvalho (Aquasis)
Resumo: O monitoramento do peixe-boi-marinho (Trichechus manatus) é uma etapa essencial e obrigatória para assegurar a adaptação de animais reabilitados e soltos ao ambiente natural. No Brasil, a radiotelemetria tem sido utilizada desde os anos 90 até a atualidade para o rastreamento de peixes-boi. Os transmissores evoluíram do ponto de vista tecnológico ao longo do tempo, mas ainda são fixados ao animal por meio de acessórios propostos nos anos 80 nos Estados Unidos. Um cinto é colocado no pedúnculo caudal e um cabo de nylon (tether) o conecta ao equipamento. A perda do equipamento e dos acessórios é comum, tendo em vista que há mecanismos de segurança para rompê-los em casos de aprisionamento em artefatos ou estruturas naturais. O formato do corpo e o comportamento dos peixes-boi dificulta as inovações na fixação dos transmissores aos animais para evitar a perda frequente. Novas tecnologias e métodos de fixação vem sendo estudados e testados em peixes-boi reabilitados no Ceará.

"Estimativa de idades e análise de isótopos estáveis: ferramentas aliadas de grande potencial para o estudo dos mamíferos marinhos"
Palestrante: Silvina Botta (ECOMEGA FURG) 
Resumo: O estudo da biologia e ecologia de mamíferos marinhos apresenta desafios ao pesquisador devido ao difícil acesso para amostragem, tanto por causa do seu hábitat, como por seu grande porte. Assim, para a obtenção de parâmetros essenciais de história de vida, ou a compreensão de padrões de uso de hábitat ou de alimentação, por exemplo, ferramentas alternativas vêm sendo implementadas. A idade é um dado essencial para compreender parâmetros de história de vida, tais como idade de maturidade sexual, parâmetros de crescimento e outras características idade-dependentes. A estimativa da idade em mamíferos marinhos é geralmente realizada por meio de análise de estruturas de acrescimento regular (i.e. que somam novas camadas de tecido em intervalos regulares de tempo), como é o caso dos dentes de pinípedes e odontocetos. Em outros casos, estruturas alternativas são utilizadas (p.ex. bula timpânica em sirênios). Ainda, a análise de isótopos estáveis (AIE) de amostras extraídas das camadas que compõem essas estruturas, aporta dados da sua história alimentar e/ou do uso do hábitat ao longo da sua vida de forma cronologicamente ordenada. A AIE tem a vantagem de proporcionar estas informações a partir da análise de pequenas amostras de tecidos, que que permitem a análise em diversos intervalos de tempo, como a vida inteira do animal, no caso dos dentes ou intervalos de tempo menores (p.ex. pele, músculo). A estimativa de idade, aliada a análise de isótopos estáveis é uma abordagem de grande valia para estudos ecológicos deste grupo de mamíferos.

"Vertebrados marinhos como plataformas de observação ambiental: legado para gerações futuras"
Palestrante: Mônica M. C. Muelbert (IMar/UNIFESP e INCT-Mar/COI - FURG)
Resumo: O potencial de utilização de vertebrados marinhos como plataformas de observação ambiental cresceu nos últimos 30 anos, representando uma verdadeira revolução na obtenção de dados principalmente em regiões de acesso remoto (>60° latitude e em alta profundidade). Vertebrados marinhos foram incorporados à redes de monitoramento ambiental como “oceanógrafos animais” (AniBOS), representando uma mudança de paradigma. Desenvolvimentos tecnológicos, colaboração entre profissionais de várias áreas de atuação, estabelecimento de protocolos comuns, critérios de atuação, compartilhamento de dados e metodologias específicas de trabalho em rede foram a base para seu sucesso. Dados de telemetria animal fornecem informações robustas, confiáveis e comparáveis sobre o meio ambiente, além de informações biológicas sobre os animais marcados individualmente. Parâmetros vitais de vertebrados superiores (sobrevivência, condição, nutrição, reprodução e recrutamento) apresentam oscilações que podem sustentar as populações durante muitos anos, mas para avaliar esta variabilidade são necessários programas de monitoramento. A telemetria animal pode informar sobre a saúde global dos oceanos, como demonstrado pelo rastreamento de elefantes-marinhos, baleias-jubarte e pinguins, e pode refletir a distribuição de presas no ecossistema antártico. Apesar de essencial, o desenvolvimento tecnológico não deve conduzir à segregação da informação científica, seja por alto custo, dificuldade de implementação ou continuidade do estudo. A ampla colaboração entre pesquisadores, o financiamento sustentável e a coordenação de esforços são cruciais na obtenção de informações relevantes frente às alterações do ecossistema marinho em tempos de mudanças climáticas e outras pressões antrópicas, visando a proposição de ações de mitigação que contribuam para a conservação futura dos oceanos.

Resumo: Equipamentos não-invasivos, como armadilhas fotográficas, sensores acústicos e veículos não-tripulados, aliados à telemetria satelital e tomografia computadorizada, desempenham um papel crucial no monitoramento de mamíferos a curto, médio e longo prazo. Essas ferramentas, aliadas a grandes volumes de dados são essenciais para viabilizar pesquisas avançadas e para a obtenção de informações que embasem medidas visando a coexistência harmoniosa entre pessoas e mamíferos silvestres. Destacar aplicações e potencialidades de tecnologias para aumentar o conhecimento acerca dos mamíferos e seus ecossistemas é de extrema relevância para o Congresso Brasileiro de Mastozoologia (CBMz). Mamíferos terrestres de médio ou grande porte, ou diurnos, viabilizam monitoramentos visuais. Espécies noturnas, pequenas ou aquáticas podem ser detectadas acusticamente. Imagens de alta resolução e dados genômicos de espécimes em museus contribuem para o avanço do conhecimento taxonômico, biogeográfico e filogeográfico. Apesar do salto no conhecimento da biodiversidade de mamíferos, custos, automatização e integração da informação resultantes do avanço tecnológico ainda são desafiadores. O CBMz, que frequentemente serve como uma ferramenta de capacitação tanto para cientistas e conservacionistas experientes quanto para iniciantes na área, visa apresentar perspectivas e dados de profissionais que incorporam diferentes tecnologias em suas práticas diárias. O simpósio proposto busca fomentar o debate sobre aplicações potenciais dessas tecnologias, algumas consolidadas e outras em estágio inicial de desenvolvimento, contribuindo para o avanço do conhecimento em prol dos mamíferos. O simpósio contará com a participação de cientistas e conservacionistas em diferentes estágios da carreira, integrando pessoas de diversas instituições acadêmicas, agências ambientais e organizações não-governamentais.
 

"Sinfonias selvagens: desvendando mistérios dos morcegos através do som"
Palestrante e coordenadora: Maria João Ramos Pereira 
Resumo: Os sensores acústicos, de dimensões compactas e cada vez mais acessíveis, são uma solução não-invasiva para monitorar mamíferos e mapear a paisagem acústica em que estão imersos. O monitoramento acústico passivo revela-se particularmente vantajoso em pesquisas envolvendo animais de difícil captura, como os morcegos, que utilizam emissões sonoras para comunicação e orientação no espaço. Serão compartilhados exemplos de estudos que utilizaram sensores acústicos para estudar esses animais, bem como outras potenciais aplicações dessa tecnologia. Esses sensores podem permanecer no campo por períodos prolongados, permitindo monitoramentos contínuos. Quando combinados com outras tecnologias, como veículos não-tripulados terrestres ou aéreos, tornam-se facilmente implantáveis e removíveis em regiões remotas, onde a presença de equipes de pesquisa é desafiadora e dispendiosa. Os dados acústicos oferecem amplas aplicações, possibilitando, por exemplo, a detecção de espécies de difícil captura, especialmente em áreas pouco exploradas, a identificação de potenciais espécies crípticas ou de padrões individuais de comportamento acústico, além de estimativas de ocupação e métricas de diversidade com base na identificação de espécies ou sonótipos. Essas informações também permitem avaliar tendências na ocupação e comportamento em resposta a alterações antrópicas. Ao registrar padrões acústicos, é possível avaliar a atividade ao longo dos ciclos circadianos e anuais, fornecendo dados essenciais para, por exemplo, definir medidas de mitigação de impactos de parques eólicos e outras infraestruturas. Abordagens e tecnologias integradas representam uma valiosa contribuição para a compreensão e preservação das interações entre os mamíferos selvagens e o seu ambiente em constante transformação.

"Dados livres, conhecimento livre: compartilhamento de dados a serviço dos mamíferos"
Palestrante: Joyce Prado
Resumo: Exemplares preservados nas coleções científicas de museus em todo o mundo constituem fontes fundamentais de informações sobre a biodiversidade, proporcionando uma viagem no tempo e no espaço para compreender a estrutura dessa diversidade. A pesquisa baseada nessas coleções desencadeou importantes revoluções no pensamento científico. Com o avanço de tecnologias inovadoras e a era dos Big Data, torna-se cada vez mais imperativo colaborar em larga escala para gerar volumes significativos de dados e abordar questões de grande envergadura. As coleções representam verdadeiras minas de informações e amostras de tecidos, e avanços contínuos estão sendo feitos, promovendo o acesso aberto a dados, imagens de espécimes e informações genéticas em larga escala. Neste simpósio, serão apresentadas as estratégias de geração e compartilhamento de Big Data na Coleção de Mamíferos do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, destacando como a disponibilização dessas informações pode ser crucial para o avanço das pesquisas e conservação de mamíferos. O termo "Big Data" aqui engloba imagens de espécimes em alta resolução e dados genômicos de espécies de mamíferos brasileiros, proporcionando contribuições valiosas para análises morfológicas, morfométricas e genéticas na caracterização de limites entre espécies, a formulação de hipóteses biogeográficas globais e facilitando o acesso a vouchers para estudos evolutivos.

"Lentes na selva: explorando o mundo dos mamíferos através das armadilhas fotográficas"
Palestrante: Flávia Pereira Tirelli
Resumo: A armadilha fotográfica foi criada como uma ferramenta para capturar imagens ou vídeos de animais silvestres de forma não-invasiva que também pode registrar eventos raros. À medida que os sistemas de armadilhas fotográficas se tornaram mais eficientes e confiáveis, os custos de aquisição, operação e manutenção diminuíram significativamente, estimulando ainda mais o interesse de pesquisadores e conservacionistas. Serão exemplificados distintos usos desta ferramenta no estudo e conservação de mamíferos silvestres nos últimos anos, incluindo softwares com recentes tecnologias de inteligência artificial para detectar, contar, classificar e identificar individualmente mamíferos. Além disso, será citado o uso de técnicas analíticas poderosas para realizar inferências adequadas a partir de dados de armadilhas fotográficas, aprimorado nossa compreensão em diversos âmbitos na ecologia e conservação de mamíferos como: riqueza e diversidade de espécies, variação na comunidade ou β-diversidade, abundância e densidade populacional, ocupação de espécies, comportamentos, além de monitoramento de ameaças às espécies, de conflitos com humanos e ações de mitigação desses conflitos. Essa ferramenta poderosa está em constante transformação e é uma tecnologia que está revolucionando a compreensão para o entendimento das populações de mamíferos e o desenvolvimento de estratégias eficazes para sua conservação.

"Além do espectro visível: potenciais e limitações dos drones com câmeras termais para amostragem de mamíferos"
Palestrante: Douglas Oliveira Berto
Resumo: Câmeras termais embarcadas em drones têm fornecido uma nova e ampla gama de possibilidades para amostragem de animais. Apesar de ainda ser uma tecnologia menos acessível pelo custo, estudos recentes vêm demonstrando suas vantagens em relação a sensores na gama do visível. A maior chance de detecção de animais camuflados ou até parcialmente obstruídos pela vegetação, assim como amostragens aéreas noturnas, são cenários que viabilizam estudar espécies difíceis de amostrar. Até ao momento, os sensores térmicos possuem baixa resolução e, somado a pouca autonomia dos drones multirrotores, geram um dilema no planejamento da amostragem. A maior flexibilidade dos multirrotores em aspectos de altura de voo, angulação da câmera e velocidade de voo permite detectar mais facilmente mamíferos de pequeno porte, capacidade que drones de asa-fixa, em geral, dificilmente detectariam. Nesta apresentação mostraremos algumas aplicações de como o sensor térmico pode auxiliar em, por exemplo, estudos de inventário de fauna, estimativas de ocupação e abundância, assim como analisar padrões comportamentais das espécies. Também iremos exemplificar um método de voo com multirrotores que tem como objetivo contornar as limitações de baixa resolução dos sensores, autonomia dos drones e área coberta em desenhos amostrais para a estimativa de uso do espaço pelos animais. Um monitoramento aéreo através deste método, possibilitando obter dados populacionais espacializados, permitiriam acompanhar mudanças demográficas e avaliar se as ações de conservação estão sendo efetivas ou se necessitam de um melhor planejamento estratégico, assim como dimensionar os impactos que as atividades antrópicas podem estar tendo sobre as populações.

"Abaixe o som! Avaliando os impactos da poluição sonora sobre os cetáceos"
Palestrante: Lilian Sander Hoffmann
Resumo: Entre os mamíferos, os cetáceos desenvolveram algumas das adaptações mais extremas no que tange às estruturas de fonação e audição pela sua ocupação do meio aquático sendo, invariavelmente, um dos mais impactados pelas atividades humanas geradoras de ruído nesse ambiente. Golfinhos e baleias utilizam a via sonora como principal canal de comunicação, de percepção do ambiente e para forrageamento. A água, pelas suas características de propagação acústica, acaba sendo um catalisador ambíguo para animais que dependem do som: o benefício adquirido pela velocidade da onda sonora pode ser uma vantagem na localização de uma presa, mas pode maximizar o efeito de um ruído desvantajoso para o animal. Cada espécie possui características acústicas próprias, o que inviabiliza a generalização dos impactos da poluição acústica ao grupo como um todo. Serão apresentados diferentes tipos de sinais acústicos dos cetáceos, explorando suas propriedades espectrais (como tipos de modulação e bandas de frequência) e contextos de ocorrência (como reprodução e alimentação). Espécies costeiras, devido à maior proximidade a atividades antrópicas (rota de embarcações, construções portuárias) são, de modo geral, mais impactadas pelos ruídos gerados nesses ambientes, podendo causar disrupturas de comportamentos, mascaramento de sinais biológicos ou até lesões corporais devido a altos níveis de pressão sonora. Considerando-se estudos atuais sobre paisagem acústica, serão apresentados equipamentos e técnicas que possibilitam uma diversidade de protocolos de coleta, como o monitoramento acústico passivo em ambientes inacessíveis e/ou por longos períodos, gerando informações que podem contribuir substancialmente para tomadas de decisão relativas à conservação.

"Eu sei o que você fez no verão passado: acompanhando os passos dos carnívoros pela telemetria GPS-Satélite"
Palestrante: Rogério Cunha de Paula
Resumo: Mamíferos carnívoros estão entre espécies que sofrem diversos prejuízos em suas vidas em função das modificações da paisagem resultantes das atividades antrópicas. Mesmo espécies tolerantes às alterações, respondem artificialmente às mudanças. Durante muitas décadas, pesquisadores estiveram limitados a enxergar reações comportamentais dos indivíduos devido aos dispositivos disponíveis. Novas tecnologias reduziram tamanhos de equipamentos, melhoraram seu rendimento, sua capacidade de gerar informações e passou-se a enxergar literalmente cada passo dos animais monitorados. A telemetria GPS com conexões com satélites fornece-nos centenas de registros semanais, revolucionando a ciência e agregando novos efeitos às estratégias de conservação. Hoje acompanhamos movimentos diários em regime de coleta minucioso, que nos permite verificar por quais caminhos onças, lobos e gatos-do-mato passam exatamente. Com isso ações de proteção e de restauração de habitats podem ser mais efetivas. Sabemos a frequência exata de visita de um predador a uma granja ou fazenda de gado e quão vulneráveis estão esses animais domésticos, possibilitando a definição de procedimentos de prevenção e redução de conflitos mais eficazes. Acompanhamos a resposta de animais às modificações humanas e ao comportamento de outros a partir de ações de reintrodução. Pesquisadores tornaram-se mais vigilantes dos movimentos e presença de animais e com isso abriu-se um baú de possibilidades de ações para combater com mais eficiência as adversidades que as espécies enfrentam, tentando persistir no antropoceno. E com todas as possibilidades que essa tecnologia nos trouxe, é bom saber o que cada um de fato fez no verão passado e continua a fazer no inverno presente!

Resumo: Um dos grandes desafios no desenvolvimento de pesquisas científicas e implementação de ações de conservação é o baixo nível de financiamento. Devido a isso, pesquisadores precisam encontrar maneiras de otimizar os recursos disponíveis e priorizar áreas onde focar seus esforços. Estratégias para priorização podem ser empregadas em diversas fases, desde o delineamento inicial do projeto —ao escolher as melhores áreas para amostragem — até a definição de áreas mais adequadas para reintrodução de espécies ou criação de áreas protegidas. Métodos de priorização podem beneficiar pesquisas com diversas abordagens, incluindo inventários rápidos visando a descoberta de novas espécies, estudos ecológicos visando comparar efeitos de fragmentação, projetos buscando aumentar a conexão entre populações, e pesquisas que avaliam o valor dos serviços ecossistêmicos prestados pela biodiversidade a fim de revelar o potencial econômico das espécies, sendo este último fundamental para ações integradas de desenvolvimento e conservação em agroecossistemas. No campo da conservação, métodos de priorização podem ser aplicados, por exemplo, para estimar custos e definir melhores rotas na criação de corredores ecológicos, levando em conta tanto a preservação da biodiversidade quanto limitações socioeconômicas. Para auxiliar nessas decisões, existem hoje diversas ferramentas dentro da biogeografia espacial que podem ser empregadas previamente ou concomitante no desenvolvimento de projetos de pesquisa e ações de conservação. Neste simpósio apresentaremos estudos de caso de como a biogeografia espacial pode ser utilizada para prever declínios de biodiversidade e otimizar os poucos recursos disponíveis para ações de conservação. Cada palestrante abordará uma aplicação distinta da biogeografia espacial contemplando os seguintes temas: (i) definição de áreas prioritárias para levantamento da biodiversidade e designação de corredores ecológicos, levando em conta custos associados e intensidade de atividade humana; (ii) como otimizar a descoberta de novas populações de espécies raras ou pouco conhecidas utilizando registros históricos e banco de dados ambientais; (iii) compreender como a retenção de espécies responde à quantidade de habitat natural seguindo diferentes trajetórias de perturbação histórica e propor soluções para a crise de biodiversidade nas florestas neotropicais; (iv) avaliar como o valor dos serviços ecossistêmicos varia ao longo do cerrado de acordo com as características da paisagem em um contexto de agroecossistemas; (v) explorar como tirar melhor proveito de dados genéticos e utilizá-los de maneira integrativa em pesquisas com diversas abordagens a fim de diluir os custos elevados de sequenciamento; e (vi) como combinar dados de amostragens e tamanho de fragmentos para gerar estimadores de riqueza de espécies mais robustos. Essas ferramentas podem ser aplicadas amplamente, sem qualquer custo associado e beneficiar projetos com diversas temáticas na biologia, além de tornar mais efetivas as ações de conservação e otimizar o uso de recurso financeiro. Esse simpósio, portanto, é de amplo interesse da comunidade acadêmica, de estudantes de graduação a professores.
 

"Um raro anacronismo continental: como a conquista das florestas neotropicais prevê uma rápida onda de extinções locais"
Palestrante: Juliano A. Bogoni
Resumo: O conhecimento da persistência de espécies em paisagens altamente modificadas é essencial para prever a perda de biodiversidade e informar ações de conservação. Compreender como a retenção de espécies responde à quantidade de habitat natural seguindo diferentes trajetórias de perturbação histórica pode elucidar padrões de resiliência e extirpação de espécies. Com base em dados analisados para 45 (eco)espécies de mamíferos em centenas de paisagens nos dois maiores domínios florestais neotropicais, irei discutir como a Amazônia pode estar prestes a repetir a história da Mata Atlântica e o que podemos fazer de forma prioritária para reverter esse processo.

"O uso de modelos de amostragem-espécies-área (SEARS) para identificar áreas prioritárias em sistemas altamente modificados pelo homem"
Palestrante: Noé de la Sancha
Resumo: A relação espécie-área é uma das clássicas leis da ecologia. Diversos artigos utilizam esta relação para estimar a riqueza de espécies em vários cenários, incluindo para avaliar os impactos do desmatamento sobre a biodiversidade. Outra regra importante é a da relação entre a densidade de amostragem e a riqueza de espécies, mas que muitas vezes não é incorporada em modelos estatísticos. Nesta palestra apresentarei como podemos combinar esforços de amostragem e área de fragmentos para estimar a riqueza de espécies local usando a Mata Atlântica do Paraguai como estudo de caso. Além disso, mostrarei como esses mesmos modelos podem ser usados para compreender o impacto das mudanças temporais da paisagem e explorar como isso pode ser expandido para avaliar métricas de diversidade funcional e filogenética, a fim de identificar áreas prioritárias para conservação e corredores ecológicos.

"Áreas prioritárias e implementação de corredor ecológico através da restauração florestal para salvaguardar a biodiversidade"
Palestrante: Mayara Beltrão
Resumo: Os Corredores Ecológicos (CE) são propostos como soluções econômicas para melhorar a conectividade ecológica em paisagens fragmentadas. O planejamento da implementação dos CE deve ter em conta as características da paisagem, uma vez que afetam a viabilidade do empreendimento e os custos associados aos CE. Vou apresentar um novo conjunto de ferramentas de geoprocessamento para i) determinar áreas prioritárias para conservação; ii) estabelecer CEs e iii) estimar o custo e a viabilidade dos CEs em uma região altamente fragmentada de Mata Atlântica com base em análises espaciais de características da paisagem. Com isso, vou evidenciar que a conservação da biodiversidade de uma das regiões de floresta tropical mais ameaçadas e fragmentadas do mundo pode ser promovida a custos modestos, através da proteção de fragmentos-chave e da sua reconexão na paisagem.

"Genética e Conservação: maximizando o ‘valor’ dos dados de RADSeq"
Palestrante: Camila F. Gonçalves
Resumo: Comumente, a genética é vista como uma área que exige um alto investimento financeiro, especialmente para países subdesenvolvidos e com menor investimento em ciência. Entretanto, ao examinarmos mais de perto, podemos destrinchar esses dados e potencializar os produtos gerados por eles. Dados genômicos, obtidos por meio de uma técnica de redução da complexidade do genoma (RADSeq), vêm sendo amplamente utilizados devido a capacidade de geração de dados em larga escala e com custos reduzidos, quando comparado com genomas completos. Neste contexto, discutirei como aproveitamos a determinação de áreas prioritárias para conservação para estabelecer estrategicamente locais alvo para coletar espécimes e gerar dados genéticos. Nosso objetivo é compreender como as alterações da paisagem podem impactar a conectividade genética de duas espécies de morcegos, mas além disso, como esses dados podem ser analisados para além do objetivo primário ao qual foram produzidos e assim, colaborar densamente em ações de conservação tanto para as espécies, quanto para a paisagem local.

"Morcego tem preço? Valoração de serviços ecossistêmicos em agroecossistemas do Cerrado Brasileiro"
Palestrante: Carolina Blefari Batista
Resumo: Um dos principais desafios na sustentabilidade e no alinhamento da produção agrícola com a conservação ambiental é conseguir demonstrar a importância da biodiversidade na produtividade dos agroecossistemas. Esta evidência é necessária para convencimento dos proprietários e produtores rurais na adoção das práticas sustentáveis de produção. A valoração econômica dos serviços ecossistêmicos (SE) precisa ser conhecida e considerada nas tomadas de decisões, para uma gestão eficiente do uso do solo de cada região. Eu irei apresentar uma abordagem metodológica para avaliar e valorar os SE prestados por morcegos frugívoros num contexto de agroecossistemas, e abordarei um método de modelagem biogeográfica (krigagem ordinária), para modelar os SE para todo o cerrado brasileiro.

"Como otimizar recursos para pesquisa e conservação de espécies raras?"
Palestrante: Anderson Feijó
Resumo: Irei apresentar como dados de presença podem ser integrados com banco de dados ambientais e de mudança de paisagem para direcionar pesquisas de campo e ações de conservação para espécies raras, pouco conhecidas e ameaçadas. Utilizando o tatu-bola como exemplo, abordarei diversos métodos biogeográficos que podem otimizar o descobrimento de novas populações, revelar características do habitat para a ocorrência da espécie, identificar corredores para conectar populações remanescentes e detectar parametros da paisagem associados com extinções locais. Ao final, todos esses modelos serão integrados a fim de definir áreas que requerem ações de conservação imediata e preventiva.

Resumo: Ecossistemas são redes complexas de espécies interligadas e os mamíferos desempenham um papel fundamental na manutenção deles. O Simpósio tem como objetivo apresentar os traços funcionais dos mamíferos e sua importância para a conservação e manutenção dos serviços ecossistêmicos. Da dispersão de sementes à predação, os traços funcionais mantêm a resistência e a resiliência dos ecossistemas. Reuniremos Mastozoólogos Nacionais em Internacionais para ressaltar o papel crucial do grupo na preservação da biodiversidade e da funcionalidade dos ecossistemas.
 

"Características funcionais-chave na interação ecológica animal-planta"
Palestrante e coordenador: Ricardo Siqueira Bovendorp
Resumo: Estudos mostram que mamíferos frugívoros podem afetar a resiliência das florestas tropicais e sua capacidade de regeneração a longo prazo, pois mais de 90% das espécies de plantas lenhosas nessas áreas dependem de animais para dispersar suas sementes. Encontramos 26 espécies de primatas interagindo com mais de 700 espécies de plantas. Todas as redes de interação apresentaram a formação de grupos alimentares específicos, indicando maior interação dentro dos grupos do que entre grupos. O grande número de plantas consumidas indica o quão generalista são os hábitos alimentares das diferentes espécies de primatas, no entanto, algumas plantas foram consumidas por apenas uma espécie de primata. As características funcionais de cada espécie caracterizam as redes de interações primata-planta da Floresta Atlântica, demostrando a importância destas interações para a manutenção das florestas remanescentes do bioma.

"Características funcionais aplicadas à avaliação do status de espécies e planos de ação de conservação"
Palestrante: Thomas Lacher
Resumo: Existem várias ferramentas de conservação, abrangendo a estimativa do risco de extinção, o potencial de recuperação de espécies, e prioridades de áreas protegidas. Quatro dessas ferramentas são ligadas a IUCN: A Lista Vermelha (Red List), o Status Verde (Green Status), as Áreas Chaves de Biodiversidade (KBAs), e os sites da Aliança para Zero Extinção (AZE). Nesta apresentação vamos discutir o valor de todas estas ferramentas, enfatizando o papel de características funcionais. Muitas vezes cada um destes processos será avaliado independentemente dos outros, resultando em uma falha de coordenação destes aspectos integrados para a conservação eficiente. A grande falha desta maneira de fazer avaliações é que os resultados saem desintegrados, e as vezes com somente uma ou duas ferramentas consideradas. Isso não somente dará uma avaliação incompleta, mas também sairá avaliações faltando aspectos espaciais, como KBAs ou sites AZE, que são essenciais para ligar dados de status com as paisagens disponíveis para efeituar conservação. Vamos apresentar dados para pequenos mamíferos brasileiros que foram avaliados com um novo modelo ligando estas quatro ferramentas em um processo só, que vai dar um resultado integrado resumindo o risco de extinção, o processo de recuperação, e as recomendações de áreas prioritárias para o futuro conservação destas espécies.

"Padrões de diversidade funcional de pequenos mamíferos na Caatinga: o que o presente pode nos dizer sobre um futuro de mudanças climáticas?"
Palestrante: Anna Ludmilla da Costa-Pinto
Resumo: As Mudanças Climáticas e a uso do solo antrópicos têm atuado em sinergia, provocando alterações na biodiversidade, na ecologia das populações, na estrutura e funcionamento das comunidades e dos ecossistemas. A influência desses limites planetários nas regiões áridas e semiaridas do mundo são pouco abordados em estudos de biodiversidade, inclusive no bioma Caatinga, a região semiárida mais biodiversa do mundo. Com papel fundamental no equilíbrio e funcionamento dos ecossistemas, já sabemos que os pequenos mamíferos serão impactados pelas mudanças climáticas na Caatinga, mas como os aspectos funcionais desse grupo de mamíferos poderiam ser moldados diante de um futuro de mudanças é uma pergunta a ser respondida. Como estaria distribuida a riqueza e a diversidade funcional de pequenos mamíferos na Caatinga? Quais fatores climáticos e do uso do solo estariam moldando esses padrões? Buscando responder essas perguntas e verificar de que forma variáveis climáticas, da paisagem e do nível de aridez estariam influenciando a diversidade taxonômica e funcional dos pequenos mamíferos da Caatinga, utilizamos uma abordagem de "space for time substitution" para estimar como as mudanças climáticas afetariam as diferentes facetas da diversidade de pequenos mamíferos na Caatinga e o que isso significa em termos de funcionalidade ecológica.

"Diversidade Funcional de médios e grandes mamíferos em agroflorestas de cacau do sul da Bahia"
Palestrante: Paloma Resende
Resumo: A produção de alimentos de forma sustentável é um dos maiores desafios atuais, visto que a agricultura é considerada uma das principais ameaças à biodiversidade. As interações entre fatores biológicos e socioeconômicos acarretados pelo avanço de áreas agrícolas, modificam a estrutura da vegetação, ciclagem de nutrientes e biomassa vegetal, acarretando tanto à perda ou substituição de espécies quanto das funções que elas desempenham. As agroflorestas de cacau do sul da Bahia nos fornecem um bom exemplo para tentar reduzir esse impacto, visto que elas ainda abrigam um importante número de espécies de mamíferos e aumentam a conectividade entre fragmentos florestais. Nosso estudo apontou que as agroflorestas tem uma relevante contribuição na manutenção da diversidade funcional na escala de paisagem, uma vez que encontramos maior riqueza funcional em áreas com maior cobertura florestal do seu entorno. Essas áreas podem servir de refúgio e ainda manter espécies que desempenham funções ecológicas importantes.

"O que afeta a diversidade funcional de pequenos mamíferos?"
Palestrante: Ana Claudia Bernardes-Dias
Resumo: Entender os mecanismos que influenciam a diversidade é tema de grande interesse dentro da ecologia. Trabalhos que fazem esse tipo de investigação geralmente buscam explicações para padrões de riqueza, mas incluir a funcionalidade das espécies como resposta pode trazer interpretações mais completas sobre a diversidade da comunidade amostrada. Neste estudo, investigamos os índices de diversidade funcional de uma comunidade de pequenos mamíferos e o quanto são influenciados por recursos locais, estrutura do habitat e características da paisagem em uma reserva inserida em paisagem fragmentada do Brasil Central. A estruturação do hábitat parece ser o fator mais significativo para a diversidade funcional de pequenos mamíferos. Em ambientes florestais, a quantidade de lianas e árvores apresenta papel importante na estruturação vertical, o que amplia o espaço funcional para as espécies, atribuindo maior diversidade funcional nesses locais do que ambientes mais abertos.

"Climate and trait composition: locomotion modes in small mammal communities as indicators of the environment"
Palestrante: Maria Alejandra Hurtado-Materon
Resumo: Climate change represents an undeniable challenge to natural ecosystems. One way species respond to environmental changes is through their traits, so the interaction between functional traits and the environment may drive animal community assembly. Ecometrics is a methodology that evaluates the functional trait-environment relationships over spatial and temporal scales at the community level, studying rates and magnitudes of biotic responses to environmental changes. Here, we will present a new ecometric model for locomotory modes, using the calcaneal gear ratio, in small mammal communities.

 
Resumo: Os tuco-tucos pertencem a um clado de roedores caviomórfos com aproximadamente 70 espécies pertencentes a um único gênero – Ctenomys. Estes roedores subterrâneos, amplamente distribuídos na metade sul do continente sul-americano, apresentam uma das maiores taxas de diversificação e variabilidade cromossômica entre os mamíferos. Tais características tornam o grupo um modelo único para estudos ecológicos, evolutivos e de conservação. Neste contexto, este simpósio se propõe sumarizar resultados recentes de descobertas no gênero. O Dr. Renan Maestri (UFRGS) fará uma introdução aos tuco-tucos e uma contextualização das descobertas evolutivas e biogeográficas. A Dra. Ivanna Tomasco (UDELAR) abordará questões relativas à sistemática do grupo a partir das novas metodologias genômicas, e a Dra. Luiza Gasparetto (UFRGS) aprofundará nos fatores por trás da impressionante radiação morfológica destes animais. O Dr. Thales de Freitas (UFRGS) trará uma abordagem da diversificação intraespecífica da espécie Ctenomys torquatus por meio de RAD-seq. A Dra. Gabriela Fernández (UNNOBA) trará uma abordagem sobre os usos e aplicações de marcadores moleculares tradicionais em estudos taxonômicos e filogeograficos e, finalmente, o Dr. Daniel Galiano (UFFS) através de uma perspectiva ecológica, tratará questões relacionadas à conservação dos tuco-tucos. O simpósio proposto terá três horas de duração divididas em dois blocos. O coordenador do simpósio apresentará os palestrantes e fará a moderação. Os palestrantes orientarão suas apresentações para um público geral de mastozoólogos. Propomos um conjunto de palestrantes formado por três mulheres e três homens pertencentes a quatro IES de três países (Brasil, Uruguai e Argentina), todos com ampla trajetória nas áreas temáticas propostas.
 

"Tuco-tucos sob uma perspectiva ecológica: conservação de espécies, monitoramento com drones e estado oxidativo de uma espécie ameaçada"
Palestrante e coordenador: Daniel Galiano
Resumo: A vida subterrânea impõe restrições gerais para as espécies de roedores subterrâneos e fossoriais, como é o caso dos tuco-tucos. Os requisitos de habitat e as características ecológicas destes animais influenciam numerosos aspectos da sua biologia, incluindo onde os indivíduos vivem, como se comportam e nas medidas adotadas para sua conservação. Neste contexto, a presente fala trará uma abordagem geral sobre características ecológicas das interações entre espécies e estrutura social dos tuco-tucos, e dois estudos de caso sobre conservação utilizando como exemplo a espécie C. flamarioni (tuco-tuco-das-dunas): o monitoramento das dunas costeiras por meio de drones e o estado oxidativo da espécie em regiões impactadas e não impactadas.

"Introdução ao gênero Ctenomys e a origem de Ctenomys brasiliensis"
Palestrante: Renan Maestri  
Resumo: Os tuco-tucos são roedores subterrâneos do gênero Ctenomys amplamente distribuídos na metade sul do continente sul-americano. Entre os mamíferos, o gênero Ctenomys é um dos mais ricos em diversidade de espécies, possui uma das mais rápidas taxas de diversificação e uma das maiores variabilidades cromossômicas. Neste contexto, a presente fala trará uma introdução aos tuco-tucos e uma contextualização das descobertas evolutivas, filogenéticas, paleontológicas e biogeográficas do gênero.

"Resolvendo a sistemática dos tuco-tucos (gênero Ctenomys) com dados genômicos"
Palestrante: Ivanna H Tomasco
Resumo: A sistemática dos tuco-tucos (gênero Ctenomys) tem sido difícil para os pesquisadores, possivelmente devido à sua rápida radiação adaptativa. Cerca de 70 espécies vivas se formaram em menos de um milhão de anos. Neste contexto, a presente fala trará uma abordagem sobre a filogenia do gênero por meio de sequenciamento massivo, gerando milhares de marcadores moleculares independentes obtidos por RADseq, incluindo 75% das espécies reconhecidas. Os resultados apoiam a distinção entre os oito grupos filogenéticos sugeridos pelo genoma mitocondrial, mas propõem diferentes agrupamentos entre eles, desafiando as hipóteses biogeográficas sugeridas anteriormente.

"Evolução abaixo do solo: adaptações e convergências morfológicas na história evolutiva dos tuco-tucos"
Palestrante: Luiza Flores Gasparetto 
Resumo: Inúmeros mamíferos terrestres evoluíram adaptações para o ambiente subterrâneo, e os roedores, em particular, se diversificaram repetidamente ao longo da sua história evolutiva para ocupar esse nicho. A subordem Hystricomprpha apresenta cinco famílias com representantes de hábitos subterrâneos – Bathyergidae e Heterocephalidae no continente africano, e Ctenomyidae, Echimyidae e Octodontidae no continente americano. Os roedores do gênero Ctenomys (família Ctenomyidae), também conhecidos como tuco-tucos, apresentaram uma radiação explosiva durante o Pleistoceno, resultando em mais de 60 espécies descritas. Esses roedores possuem diversas adaptações morfológicas para a vida subterrânea, e, há muito tempo tem atraído a atenção de biólogos evolutivos, em relação à sua diversidade e aos fatores por trás dessa impressionante radiação. Neste contexto, a presente fala trará uma contextualização sobre a evolução morfológica do gênero Ctenomys, abordando as principais descobertas sobre as adaptações e convergências morfológicas compartilhadas com os demais clados de roedores Hystricomorfos subterrâneos.

"Diversificação intraespecífica no Pampa: uma abordagem para Ctenomys torquatus utilizando dados RAD-seq"
Palestrante: Thales Renato Ochotorena de Freitas
Resumo: Ctenomys torquatus tem uma das distribuições mais amplas dentro do gênero Ctenomys, tornando-a um modelo importante para estudos de diversificação intraespecífica. Neste contexto, a técnica RAD-seq. tem demostrado ampla versatilidade e capacidade de gerar grandes quantidades de dados das mesmas regiões de um genoma. Assim, a presente fala trará uma abordagem sobre o método RAD-seq e a espécie C. torquatus, que foi utilizada para recuperar milhares de SNPs distribuídos ao longo do genoma de 57 indivíduos representando 16 populações cobrindo a maior parte da região de ocorrência da espécie, resultando em padrões de variação genética intraespecíficos. Dentro os principais resultados, será discutido a estruturação genética entre as populações e o isolamento pela distância, associados às barreiras geográficas que determinam a diferenciação entre as populações.

"Usos e aplicações de marcadores moleculares tradicionais na era genômica. Estudos de caso em sistemática e conservação de tuco-tucos"
Palestrante: Gabriela Fernández 
Resumo: O desenvolvimento de novas tecnologias moleculares, acompanhado de ferramentas bioinformáticas adequadas, tem revolucionado o campo da biologia em suas mais diversas áreas e nos questiona a respeito do alcance dos marcadores tradicionais no estudo da diversidade biológica (tanto intra como interespecífica). Neste contexto, proponho-me a traçar uma aproximação de como os marcadores moleculares tradicionais, em especial os marcadores mitocondriais e os loci de microssatélites, nos permitem responder a diferentes problemas filogenéticos, taxonômicos e de conservação no gênero Ctenomys. Nesse sentido, serão apresentados estudos de caso que incluem e abordam questões taxonômicas em espécies que compõem o grupo talarum -C. talarum e o complexo de espécies relacionadas a C. pundti- (região dos pampas, Argentina) para as quais a baixa diferenciação genética encontrada nos leva a questionar a sua validade quanto espécies. Um segundo estudo em andamento inclui espécies de tuco-tucos que se distribuem em uma vasta região entre os rios Paraná e Uruguai (Centro-leste da Argentina), para a qual existe um grande desconhecimento taxonômico sobre as espécies que ocorrem na região, tendo identificado novas linhagens mitocondriais relacionadas a C. rionegrensis. Por fim, serão abordadas questões filogeográficas e de conservação no ameaçado C. flamarioni, cujo destino evolutivo se encontra fortemente relacionado às flutuações climáticas do Quaternário, assim como a fatores contemporâneos relacionados à ocupação humana e à modificação das dunas costeiras do Sul do Brasil.

Resumo: A taxonomia é o primeiro passo para criação de planos para conservação. Contudo, não podemos necessariamente esperar conservar organismos que não conseguimos identificar, e as nossas tentativas de compreender as consequências das alterações e da degradação ambiental ficam fatalmente comprometidas se não conseguirmos reconhecer e descrever os componentes que interagem nos ecossistemas naturais. As mudanças no conhecimento da diversidade, no entanto, não se resumem a descrições de novas espécies; envolvem uma série de rearranjos em diversos grupos, que podem ser especialmente complexos para pesquisadores não especialistas e para os tomadores de decisão. Além de um melhor entendimento sobre a fauna brasileira, tais rearranjos possibilitam uma avaliação mais precisa do grau de ameaça enfrentado pelas espécies. Devido as recentes mudanças, táxons antes considerados de “baixa preocupação” são hoje listados em alguma categoria de ameaça, refletindo o importante papel da taxonomia na conservação. Nesse simpósio apresentaremos uma atualização do conhecimento da diversidade dos mamíferos brasileiros, incluindo avanços e perspectivas de mudança em vários dos grupos mais diversos. Cada palestrante apresentará: a) um histórico da evolução do conhecimento da diversidade em determinado grupo; b) onde ocorreram as principais mudanças - de onde vieram as novas espécies ou rearranjos: Há “pontos quentes” em termos de áreas geográficas, gêneros/grupos de espécies, e formas de descoberta—revisões de espécimes de museu ou novas explorações de campo?; c) “próximos passos” para o entendimento da diversidade no grupo foco. Com base no conhecimento atual, de onde (quais complexos de espécies, quais áreas geográficas) virão as mudanças no futuro próximo? Ao final, abordaremos como esses avanços taxonômicos afetam a avaliação do status de ameaça das espécies e na priorização de medidas de conservação. Como a apresentação de cada palestrante incluirá uma abordagem didática sobre o conhecimento atual da diversidade e atualizações em um determinado grupo, esperamos que esta seja uma proposta de interesse não somente para taxonomistas, mas atraente também para outros pesquisadores que dependem amplamente do conhecimento da diversidade e definição de espécies para desenvolver seus estudos.
 

"Cingulatas e Pilosas:As incertezas taxonômicas de grupos de mamíferos raros do Eoceno e suas implicação para conservação"
Palestrante e coordenadora: Flávia Miranda 
Resumo: Falarei das recentes descobertas taxonômicas e exemplos de projetos de conservação referente a esses dados. Em seguida, discutirei como estudos de taxonomia e genética afetam o status de conservação das espécies assim como a importância de trabalhos desta natureza.

"Os pequenos desconhecidos e sua importância para conservação"
Palestrante: Silvia Pavan 
Resumo: Apresentarei os avanços alcançados nos últimos anos sobre a diversidade de pequenos mamíferos brasileiros: táxons reconhecidos, de onde vieram e de onde esperamos novas mudanças para conservação.

"Escondidos em gavetas de museus: como mudanças recentes na taxonomia dos morcegos neotropicais revelam espécies ameaçadas"
Palestrante: Guilherme Garbino
Resumo: Comentarei sobre mudanças recentes na taxonomia dos Chiroptera neotropicais, evidenciando os padrões observados nas descrições de novas espécies e nos demais rearranjos taxonômicos. Discutirei como essas mudanças afetam nosso entendimento sobre a biogeografia e evolução do grupo e potencialmente alteram o status de ameaça de algumas espécies.

"Espécie nova, espécie ameaçada: o caso dos primatas neotropicais"
Palestrante: José Eduardo Serrano Villavicencio
Resumo: A taxonomia de primatas neotropicais tem sofrido grandes mudanças nas últimas duas décadas, tanto no nível de espécie quanto ao nível de gênero. Novas espécies de primatas continuam sendo descritas neste primeiro quarto de século: mais de 25 delas foram descritas na primeira década, 36 na década de 2010 e três até agora na década de 2020. No nível genérico, a diversidade destes mamíferos também tem aumentado, com novos gêneros sendo propostos e outros ressuscitados. Estas mudanças têm causado impacto na conservação, pois algumas espécies anteriormente com ampla distribuição geográfica têm sido desmembradas em várias novas espécies com distribuições restritas que, quase imediatamente, são categorizadas como ameaçadas nas esferas estaduais, nacionais e internacionais. Por outro lado, as mudanças no nível genérico podem criar uma falsa ideia de raridade ou exclusividade em certos grupos, isolando espécies altamente ameaçadas em gêneros endêmicos. Isso pode promover um senso equivocado de urgência para a conservação dessas espécies. Desta forma, é recomendado que pesquisas sem viés taxonômico devem ser analisados cuidadosamente com a finalidade de evitar a perda de tempo e recursos humanos e financeiros em populações que, após estudos integrativos, possam ser consideradas como espécies não válidas.

"Aplicações de ferramentas genômicas na taxonomia e conservação da biodiversidade"
Palestrante: Ana Pavan
Resumo: Farei um breve histórico sobre o papel central de informações genéticas para o avanço da taxonomia de mamíferos e apresentarei sua relevância e complementariedade como indicadores em programas de conservação e processos de avaliação do risco de extinção de espécies.

"O “velho” e o “novo” – Taxonomia integrativa e a descoberta de novas espécies ameaçadas de cervideos"
Palestrante: Mauricio Barbanti
Resumo: Cobrirei as novidades na taxonomia de cervídeos brasileiros, e mostrarei como a evolução de técnicas analíticas (taxonomia integrativa) ajuda a revelar a diversidade no grupo, incluindo a descoberta de espécies já ameaçadas e quais os planos de conservação já elaborados